Pilar de Fogo (bibliografia) é uma noveleta de Ray Bradbury que mescla o horror e a ficção científica. Ambientada no futuro, mais propriamente no ano de 2349, a história tem como protagonista um homem nascido em 1898... e falecido em 1933. Um morto, portanto. Mas um morto de que repente dá por si vivo, ou pelo menos animado, numa sociedade utópica (ou distópica?) do futuro longínquo que desconhece a morte e os rituais que a acompanham no nosso tempo, ou pelo menos no tempo da nostalgia de Bradbury, uma sociedade desprovida de cemitérios, na qual o fim de vida se faz em crematórios.
Quem conhece a obra deste autor americano depressa reconhece nesta história vários dos seus temas mais típicos. O outono como época de morte e renascimento, perfeitamente exemplificado pela celebração do Halloween e tudo o que esta tem de macabro. A desconfiança perante a tecnologia, que por vezes roça a tecnofobia, e perante a racionalidade, postas em confronto, de forma desfavorável, com a magia de tudo o que é irracional, fonte da poesia. O americanismo quase quintessencial. A homenagem a escritores que Bradbury admira.
Nesta história, o morto-vivo chega carregado de ódio ao admirável mundo do futuro, não o compreende e não é por ele compreendido. E mata. Mata, e em série, e cada vez mais, mas não é por Bradbury apresentado como mau; é apenas alguém apanhado numa situação impossível, alguém que procura recuperar a pureza e a poesia do passado da única forma que consegue imaginar.
É uma história estranha, esta. De novo não é das melhores histórias de Bradbury, arrastando-se em demasia em vários trechos, e trazendo ideias que serão provavelmente vistas por muita gente como francamente bizarras, pelo menos até se saber em que ano foi escrita: 1946. Um ano após o fim da II Guerra Mundial, quando era máximo o impacto do Holocausto, com a sua morte industrializada e tecnológica, os seus crematórios, o seu friso de horrores. Este número explica muita coisa, torna a história muito mais compreensível. Mas não creio que chegue para torná-la realmente boa. É razoável, apenas isso.
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