quinta-feira, 16 de março de 2017

Lido: Décimo Nono Teste de Competência Robótica

Embora ainda não seja um conto na completa aceção da palavra, o que é sublinhado pela sua inclusão numa secção de "artigos" (após um verdadeiro artigo que explica o conceito de steampunk), Décimo Nono Teste de Competência Robótica é um texto de ficção plena, no qual a autora, Débora Fortunato Moreira, encarna um robô escritor chamado Bartholomew Keylock e apresenta uma espécie de relatório da sua tentativa de criação literária, repleta dos inevitáveis automatismos e picuinhices desnecessários causados pela condição da personagem. "O céu está aproximadamente da cor #42c7fe", escreve-se a dado passo, um exemplo entre muitos.

É uma historinha razoavelmente divertida mas sem grande originalidade, com uma ligação ténue ao steampunk (pouco há que diferencie este robô de tantos outros robôs da FC não steampunk) e com alguns pormenores que destoam do rigor que a personagem pretende evidenciar, o que prejudica a verosimilhança. Não é credível, por exemplo, que um maquinismo tão obcecado com a precisão trate a mulher como subespécie do homem, chamando-lhe "Homo Sapiens Mulier", pelo menos sem um pano de fundo que o justifique. Lineu, morto em 1778, logo bem antes da época em que o steampunk de inspiração vitoriana tende a ambientar-se, definiu bem as regras da sua nomenclatura sistemática. Embora o humor não tenha de se submeter sempre à verosimilhança, estas coisas funcionam melhor quando as piadas que a atacam são fulcrais para a história, o que lhes dá uma razão para existir, do que quando são meros apartes que podem ser removidos sem a prejudicar em nada, caso em que passam uma imagem de descuido ou desatenção que pode prejudicar o próprio humor que se pretende alcançar.

Em suma, esta história deixa a desejar, aparentemente em resultado da inexperiência da autora.

Textos anteriores deste livro:

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