sábado, 18 de março de 2017

Lido: Salto no Tempo

A ficção científica dos anos 40 e 50 do século passado raramente envelheceu bem o suficiente para chegar aos dias de hoje ainda com alguma frescura. Em parte isso deve-se a ter sido encarada muitas vezes, tanto por gente de fora do género, como por gente de dentro, como paraliteratura, mero objeto de consumo e produção rápidas, sem grande elaboração, concentrando-se na trepidação da ação em enredos mais ou menos mirabolantes e pondo de parte quase tudo o resto que compõe a experiência literária. A famigerada abordagem pulp à coisa.

Nem toda foi assim, naturalmente. E felizmente. Mas muita foi, e nisso nem existem tão grandes diferenças entre a FC dos vários países como por vezes se apregoa. E este livro, francês, é disso um claro exemplo.

Salto no Tempo (bibliografia) não é propriamente um livro de viagem no tempo, ao contrário do que o título português (que se substitui por completo ao original Via Velpa, diga-se) sugere. Yves Dermèze cria aqui uma aventura pulp movimentada que inclui viagens no tempo mais vai além disso, metendo também ao barulho o conceito de universos paralelos. O enredo é enovelado, pois há uma rapariga vinda do futuro (que tem a função habitual das mulheres nas histórias pulp de meados do século XX, o interesse romântico do herói macho, mas é um pouco menos incapaz do que é hábito) que procura salvar a sua civilização do ataque de umas criaturas implacáveis, destruindo a civilização que lhes deu origem, para o que conta com o auxílio de um dissidente político genial de uma civilização rigidamente totalitária, que vem a descobrir que essas criaturas foram criadas pela sua própria civilização, e por aí fora.

Dermèze consegue manter este enrodilhado enredo sob controlo, criando um romance ritmado e razoavelmente interessante. Mas claro, pulp, com tudo o que isso implica. Acaba-se a leitura, chega-se ao final que, como é habitual neste tipo de história, soa a conto de fadas, e descobre-se que enquanto ela durou se esteve entretido mas não se obteve mais do que isso do tempo gasto. Este livro é literatura-chiclete assumida e, sob esse ponto de vista, até se poderá considerá-lo bonzinho. Mas esteve longe de me agradar. Leu-se. E só.

Este livro foi comprado.

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