Alguns dos textos deste livro de Luiz Bras são razoavelmente clássicos enquanto contos, ainda que breves, e muitos têm até características de género bastante bem identificáveis. Outros há, porém, que ocupam territórios bastante mais mistos, seja em termos genéricos, seja mesmo no que toca à sua caracterização como prosa ou poesia. Noite de Walpúrgis na Brain-Net é um destes últimos, com uma prosa muito poética e bastante expressiva, que me fez lembrar os arroubos tecnófilos do engenheiro pessoano Álvaro de Campos. Há também nele muito de borgesiano, o que é a maior obviedade que se pode dizer sobre este texto, e há também muito de ciencio-ficcional, o que é bastante menos óbvio porque o texto não obedece a praticamente nenhuma das características convencionais da ficção científica, ainda que lhe faça referência com alguma insistência. É que, segundo creio, uma das principais inspirações para esta história, além do referencialismo literário que está muito evidente desde o título até às últimas frases-parágrafos, é o ciberpunk e a forma como os ciberespaços tendem a pixelizar as coisas. Trata-se, em suma, de uma experiência. Bem sucedida? Creio que sim, que o autor conseguiu fazer precisamente o que pretendia.
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