Explosão da Fundição de Sinos, de Manuel Alves, partilha com o texto anterior a característica de ser um conto apresentado como artigo noticioso e também uma outra: ambos são construídos em volta de crimes e da investigação que lhes sucede. Mas isso é basicamente tudo o que os dois textos têm em comum. Onde o texto de Pedro Ferreira toca de raspão o steampunk, o de Alves coloca-o no centro de tudo; onde o texto de Ferreira se fica pela rama no que toca à parte investigativa, deixando entrever que haveria ainda muitos factos por apurar, o de Alves consegue, de uma forma bastante hábil, dar a entender que o mistério deverá perdurar, pois os investigadores já terão desenterrado todos as provas disponíveis, sem que elas façam grande sentido.
Conta este texto o que é possível contar sobre o misterioso desaparecimento de um tal Engenheiro Henrique Aldim, talvez vítima da explosão a que o título faz referência, embora o corpo não tenha sido encontrado e apesar de haver notícias de que, pouco antes da explosão, um grupo de encapuzados teria entrado aos tiros pela Fundição dentro. Também destes encapuzados não há rasto. O leitor recebe a maior parte da informação relevante através de alguns fragmentos de páginas escritas, que teriam pertencido ao diário do malogrado engenheiro, e que deixam entrever uma história complexa com ramificações por desenvolvimentos tecnológicos no campo da robótica e, ao que parece, pela espionagem industrial... ou talvez da outra? Não é claro.
Esta é uma história bastante bem contada, que consegue deixar água na boca ao mesmo tempo que se encerra em si mesma de forma satisfatória. Um dos melhores textos desta publicação.
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