Singularidades de uma Rapariga Loura, apesar de ser "apenas" um conto, deve ser dos mais conhecidos títulos de Eça de Queirós, graças em boa medida à adaptação que Manuel de Oliveira dele fez para cinema. É uma história bem contada, como seria de esperar do melhor escritor português do século XIX. Uma história de paixão entre um caixeiro que trabalha na loja do tio e uma rapariga loura que mora em frente e tem uma determinada singularidade que o leitor atento compreende bastante antes do protagonista. E, aparentemente, o tio percebe antes de todos, uma vez que proíbe tão intransigentemente o eventual namoro que deixa o sobrinho entregue a si próprio caso insista nele. Coisa que faz, com as consequências que não é muito difícil prever.
Narrada com mão de mestre, habitada por personagens tridimensionais e cheias de solidez, esboçando com grande eficácia um retrato com todo o ar de ser fiel da burguesia mercantil lisboeta de há coisa de cento e cinquenta anos, é uma história repleta de qualidades e portanto de qualidade. Mas também é daquelas histórias que pouco interesse costumam despertar-me, em especial quando a partir de certa altura só apetece esbofetear o mancebo enamorado para ver se acorda e percebe quem ali vai de braço dado com ele. Prefiro histórias que sinto que me enriqueçam de algum modo, e estes contos mais ou menos morais sobre relações sentimentais e relações sociais não costumam dar-me grande coisa. Na verdade, tendem a despertar-me algum tédio, por melhores que sejam. E esta é, de facto, muito boa, ao ponto de o que mais me interessou ter sido mesmo a mestria do autor. Mas não, não me encheu as medidas.
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