São raros os contos recolhidos por Adolfo Coelho que ultrapassam as duas ou três páginas e os poucos que o fazem, não raro, são em grande medida compostos por versos. Esvintola não: embora inclua três curtos versos perto do fim, é quase tudo texto corrido. E ocupa quatro páginas.
Sem surpresa, é um conto com um pouco mais de elaboração do que a maioria dos outros. Conta a história de um rei que vai para a guerra deixando as três filhas para trás, o que como se sabe, e porque as mulheres destas histórias são inerentemente presas de machos predatórios, é um risco imenso para as virtudes das donzelas. Mas o rei não se embaraça, dando a cada uma um ramo mágico, que murchará caso a menina escorregue. Claro que aparece logo um conde malandro que trata de aviar as piquenas, o que consegue fazer sem problemas, naturalmente, pelo menos quanto às duas mais velhas.
Mas a mais nova, a tal Esvintola (e que raio de nome!), era espertalhona e pouco dada a roçadelas prematrimoniais, e vai daí o conde mau dá-se mal. Bem feita.
Este conto é uma propaganda à virtude, já se vê, tal como esta era entendida nos tempos de antanho, com a correspondente moralidade. Um conto destinado a ensinar meninas, provavelmente. Podia resultar numa história engraçada se fosse modernizado, desenvolvido, tratado com saudável iconoclastia, mas a verdade é que tal como está não me parece que seja leitura particularmente aconselhável.
Dito isto, não deixa de ser agradável encontrar de vez em quando neste livro algo um pouco mais elaborado do que as três pancadas habituais.
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