Presa é um conto de horror de Richard Matheson. Conta o que acontece a uma mulher que compra um boneco zuni (tribo índia originária do sudoeste dos EUA, pertencente aos povos Pueblo) para oferecer ao namorado, a efígie de Aquele que Mata, o Grande Caçador. Segundo a lenda (que vem a revelar-se verdadeira), o boneco aprisiona o espírito de um grande e muito maligno guerreiro, impossibilitado de sair de lá por uma corrente de ouro. E o conto descreve o que acontece quando o boneco cai ao chão e a corrente sai do sítio, fazendo com que o boneco ganhe vida.
O conto pareceu-me bom. Bem concebido, com um final adequadamente ameaçador e razoavelmente bem escrito. Mas fez-me lembrar tempos antigos, em que eu ficava noite fora a ver episódios de séries de horror na televisão e só me ria. Para mim, aquilo era comédia. É o problema das histórias concebidas para provocar determinados efeitos: as pessoas são diferentes e reagem de forma diferente aos estímulos com que as confrontam. E, embora eu acredite piamente que esta história consegue provocar o efeito pretendido em muitos leitores, a mim deu para rir. Há detalhes no que o boneco faz que esfrangalharam por completo a suspensão da descrença, e uma vez desfeita essa ilusão só restou ao conto a técnica na construção da história e o ridículo da situação. Na verdade, é o que me acontece com boa parte do horror: é muito mais fácil transformar-se em comédia do que assustar-me ou arrepiar-me. Ou seja: o conto pareceu-me bom, mas comigo falhou redondamente. Não tanto porque o conto seja assim ou assado, mas porque eu sou como sou.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de abusadores. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.