sábado, 17 de abril de 2010

Lido: The Hidden Place

The Hidden Place é uma noveleta de ficção científica de Ian McDonald que se ambienta num futuro distante, num planeta situado algures na galáxia, colonizado há milénios por uma nave automática (uma sonda semeadora; não propriamente uma máquina de van Neumann, porque não é auto-replicadora, mas o conceito é semelhante) após uma longa viagem interstelar desde um sistema próximo, por sua vez colonizado milénios antes de forma semelhante e assim sucessivamente. No universo humano assim criado, não existe quase nenhum contacto físico entre sistemas planetários, mas a pós-humanidade que por eles se espalha está interligada por uma rede de comunicações e partilha de tecnologia e informação e assume o nome de "Clade".

Mas quem por esta descrição presuma que se trata duma história de FC dura, cheia de metal e ciências fisico-químicas, desengane-se. É uma história sobre um primeiro contacto, num planeta relativamente jovem e no qual a humanidade (uma humanidade algo alterada por erros na transcrição das sequências de ADN) ainda se encontra mais ou menos no estágio evolutivo em que nos encontramos hoje, dividida em nações rivais e mais ou menos guerreiras. Mas não um primeiro contacto presencial: o emissário do Clade que se apresenta aos habitantes do planeta é uma espécie de implante neural, uma personalidade reconstruída artificialmente no cérebro de alguém.

E a história não tem nada do fogo de artifício que muitas vezes se associa à FC. É uma história intimista, muitíssimo bem escrita na primeira pessoa, sobre a relação entre o emissário e uma xenopsicóloga destacada para proceder ao contacto. Também é uma leitura francamente difícil, porque todo este ambiente vai sendo lentamente introduzido ao leitor, confrontado desde o início com noções inesperadas e sem explicação, que só a pouco e pouco vão fazendo sentido. Durante boa parte da noveleta, a confusão é o sentimento preponderante, interrompida aqui e ali por pequenos lampejos de esclarecimento.

Não é, portanto, história para todos. Eu gostei, embora outras histórias deste autor me tenham agradado bastante mais. Esta pecou principalmente, a meu ver, por um fim que, embora faça sentido, não é preparado e parece por isso algo desgarrado no contexto da história. E também, talvez, por alguma falta de camadas, de leituras possíveis. Mas, para mim, o magnífico tratamento dado à língua inglesa compensou essas falhas.

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