sexta-feira, 20 de julho de 2012

Lido: Fantascom

Fantascom (bib.) é uma muito longa sátira de ficção científica, de João Barreiros, ambientada numa convenção de fantasia numa Lisboa futura e alternativa na qual a fantasia é o género literário por excelência, e os escritores que a escrevem são superestrelas. Especialmente um escritor, claramente inspirado em Filipe Faria.

Nesta novela, Barreiros diverte-se a gozar com Faria, com a fantasia enquanto género, com os editores, com os fãs, até consigo próprio e com os amigos que qualquer pessoa minimamente atenta ao fandom identifica sem nenhuma dificuldade e que constituem um grupo de "anarco-terroristas", escritores de FC frustrados e sem público, que procuram, naturalmente, destruir tudo. Fá-lo para se divertir, sim, mas também para transmitir as suas ideias sobre a relação entre a FC e a fantasia, os leitores e as editoras, enfim, o meio em que se move literariamente há algumas décadas.

O problema é que qualquer pessoa minimamente atenta ao fandom já está farta de conhecer essas ideias. Porque assomam à superfície à mais leve oportunidade e porque há pelo menos vinte anos que se mantém inalteráveis. E isto é problema porque contribui para tornar a história chata. Não está em causa concordar-se com elas ou não — pessoalmente, concordo com algumas, e acho outras perfeitamente disparatadas — apenas a repetição, o reiterar da mesma conversa de sempre, a total ausência de novidades.

E não é só isso a tornar a história chata. As personagens, compreensivelmente caricaturais numa história como esta são, todavia, adjetivadas de forma desnecessariamente repetitiva. Uma é sempre cruel, outra invariavelmente bondosa, outra não aparece sem que esteja a comer ou tenha acabado de o fazer, entre arrotos, e etc. Mas pior é a quase ausência de história ao longo de muitas, muitas páginas. O Barreiros de antigamente, com as suas histórias repletas de uma ação quase barroca, só assoma à superfície perto do fim; o resto é um nunca acabar de descrições e conversas em que quase nada acontece.

Cada um destes problemas, individualmente, seria coisa de pouca monta. Mas juntos tornam este texto medíocre. Reduzido a metade, concentrado, podia ter sido um bom conto, talvez até excelente; assim, está muito longe disso. E ainda é piorado por uma péssima revisão, que deixa passar dezenas de calinadas. Página sim, página não, mais coisa menos coisa, lá vem uma daquelas de torcer o nariz, quando não é mesmo de bradar aos céus. Pura e simplesmente não é desculpável que palavras como "começe" acabem publicadas. Já não o era antes de todos os computadores estarem equipados com corretores ortográficos, e muito menos o é agora que estão.

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