domingo, 1 de julho de 2012

Lido: Bip

Bip (bib.) é uma longa noveleta de ficção científica de James Blish que, apesar de um certo clima space-operático (há batalhas espaciais a decorrer em pano de fundo), é altamente filosófica e se debruça sobre o conceito de destino e o determinismo ou o livre arbítrio. Tudo gira em volta de um tal comunicador de Dirac, que permite a comunicação instantânea a distâncias interstelares... e não só. Este comunicador é fulcral para o funcionamento de um serviço secreto que promove o estabelecimento de uma civilização galática unificada, não só na sua função primária de comunicação em tempo real entre pontos imensamente distantes, como no curioso efeito secundário que o seu funcionamento desvenda.

Trata-se de um típico conto "de ideia", pouco interessado na elaboração de personagens ou ambiente social, concentrado quase em exclusivo na ideia em si mesma, em algumas das suas consequências, e na forma como aconteceu a descoberta do efeito secundário. Para isso, Blish socorre-se de uma longa analepse, com um clima quase policial, e o conto funciona em boa medida por causa disso. O modo como o Serviço funciona é um mistério, que se mantém de pé quase até ao fim, e o autor mostra-se hábil a geri-lo, deixando pistas subtis aqui e ali. Que a ideia ainda não se tenha esgotado também ajuda. Sim, a noveleta é antiga: já tem mais de meio século. Mas a discussão sobre se o nosso universo é determinístico ou não mantém-se válida, ainda que certos fenómenos já largamente comprovados, como a mecânica quântica, forneçam fortes indícios de que não o é. Tudo somado, faz com que esta história se mantenha de pé e me pareça ser das melhores do livro.

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