segunda-feira, 16 de julho de 2012

Lido: O Silmarillion

O Silmarillion (bib.), de J. R. R. Tolkien, é uma coletânea reunida após a morte do autor pelo filho, Christopher Tolkien, o qual pegou numa variedade de textos dispersos do pai e fez de uns algo semelhante a contos, amalgamando os outros numa longa narrativa episódica que tem semelhanças com um romance. Todos esses textos se referem a acontecimentos que terão decorrido no universo ficcional tolkieniano antes dos tempos d'O Hobbit e d'O Senhor dos Anéis, servindo como uma espécie de história, ou de mitologia prévia, de grande pano de fundo contra o qual decorrem as histórias mais bem conhecidas.

E na verdade, a forma como o leitor encarar esta coletânea irá depender diretamente da forma como saiu da leitura das histórias de Bilbo e de Frodo. Nem se pense ler O Silmarillion sem se ter antes lido pelo menos a trilogia em que Frodo transporta o anel. Porque embora aqui se incluam dois textos que funcionam bem enquanto objetos literários, dois textos que mimetizam bem antigos mitos de criação e são autonomamente interessantes por causa disso, estes são os textos mais pequenos e todos os outros pouco passam de exercícios de worldbuilding sem grande interesse intrínseco. Um leitor tão interessado na construção de mundos que dispense as histórias que esses mundos contêm talvez se contente com as narrativas dispersas e apressadas que poderá encontrar aqui, mas não creio que os leitores comuns sejam capazes de tanto.

Por outro lado, para quem leu O Senhor dos Anéis e se tornou aí fã de Tolkien, e em especial para aqueles que ficaram enfeitiçados pelo mundo que ele cria, este livro é um prato cheio. Porque aqui se explicam muitas coisas que são apenas sugeridas na trilogia e n'O Hobbit, porque, apesar das lacunas, é aqui que todo o substrato histórico-mitológico fica desenhado, e porque este livro enquadra a trilogia no esquema mais vasto da grande narrativa baseada no combate entre as forças do bem e as do mal que constitui a história do mundo tolkieniano desde o seu surgimento.

Mas para alguém como eu, que leu O Senhor dos Anéis e não se tornou fã de Tolkien, O Silmarillion é uma leitura bastante aborrecida. Se vos desagradou o maniqueísmo da trilogia, aqui vão encontrá-lo elevado ao cubo. Se acharam a escrita de Tolkien maçuda, aqui ela vai sê-lo muito mais. Se todos aqueles nomes de criaturas e lugares vos confundiram ou aborreceram na trilogia, aqui vão encontrá-los multiplicados por dez, e sem mapa que vos oriente (bem, há um mapa, mas está muito, muito longe de bastar).

Sim, há algumas histórias com interesse, os dois contos-mitos mais pequenos que já referi e alguns dos fragmentos que constituem o texto maior. Mas dão quase todas uma sensação de esboço apressado e incompleto de algo que nunca chegou a ser escrito. Espinhas dorsais, mais ou menos elaboradas, não verdadeiras histórias. E é precisamente isso, claro, o que são, tanto as histórias mais desenvolvidas e interessantes como as que o estão menos. Para os fãs chegam, porque lhes amplificam e desenvolvem a experiência d'O Senhor dos Anéis. Compreendo perfeitamente que assim seja. Mas quem, como eu, não achou essa experiência grande coisa precisaria de mais para conseguir gostar deste livro; não é amplificando uma experiência pouco agradável que se conquista alguém.

Em suma: não gostei deste livro. Mas aconselho sem grandes reservas a sua leitura a todos aqueles que já leram Tolkien e gostaram: acho bastante provável que vos agrade.

Eis o que achei de cada um dos textos individualmente considerados:
Este livro foi comprado.

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