Em finais dos anos 40 e inícios dos 50, Ray Bradbury visitou muitas vezes Marte. Parte dos contos que escreveu sobre o nosso vizinho cósmico acabaram mais tarde por ser incluídos num dos seus melhores livros, As Crónicas Marcianas, mas outros não o foram, apesar de partilharem com aqueles boa parte dos ambientes e preocupações. É o caso de Eles Eram Morenos, e de Olhos Dourados (bibliografia), conto que partilha com uma das histórias das Crónicas Marcianas não só o título original (um deles, pelo menos; este conto foi publicado em inglês sob três títulos diferentes) como parte da ideia. E outras partes da ideia também estão presentes nas Crónicas, em outros contos.
Trata-se da história de uma família de colonos terrestres em Marte, dos primeiros a chegar. O Marte a que chegam é o Marte bradburiano, com mais a ver com as fantasias originadas pelos canalli de Schiparelli e de Lowell do que com o planeta verdadeiro que a exploração científica vem desvendando desde o dealbar da idade espacial. Um planeta seco, mas coberto por grandes obras de engenharia que procuram aproveitar a pouca água que resta. Um planeta morto, mas no qual ainda se podem encontrar e explorar não só os canais, mas cidades inteiras, testemunhas de uma civilização desaparecida. Um planeta pronto para ser colonizado por homens, mulheres e crianças vindos da Terra; uma nova fronteira.
Mas chegados ao planeta, e tal como acontece nas Crónicas Marcianas, os colonos veem-se confrontados com uma guerra devastadora no planeta natal, uma guerra nuclear. Não revelo o que acontece de seguida, mas quem leu as Crónicas Marcianas facilmente adivinha pois, embora neste conto não aconteça exatamente o mesmo é bastante parecido. Digo apenas que o planeta acaba por reclamar o que lhe pertence.
É um conto muito bom, este. Uma antevisão do que viriam a ser as Crónicas Marcianas (o conto é de 1949, o livro de 1950), talvez uma fusão num conto só de várias das histórias que formam o livro, o qual inclui histórias publicadas pela primeira vez entre 1945 e 1950, talvez as duas coisas ao mesmo tempo. O livro é melhor, porque está mais completo, é mais complexo e inclui algumas absolutas obras-primas do conto de ficção científica, mas este conto não lhe fica muito atrás.
Contos anteriores deste livro:
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