quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Lido: Prosa

Todos os leitores são diferentes. Cada um procura nos livros a satisfação de um conjunto muito próprio de necessidades ou apetites e é em boa parte daí que vem a variedade de públicos que a literatura serve. Raramente é possível reduzir esse conjunto a uma ou duas coisas, ainda que haja sempre algo que predomina. No meu caso, o predomínio cabe ao gosto de aprender, ao gosto pelo poder da imaginação e ao gosto por uma boa história, servida pela prosa que seja mais adequada a essa história em concreto.

Quando acabei de ler este Prosa, de Mário de Sá-Carneiro, parte de uma edição dupla que reúne em dois volumosos volumes a obra completa deste célebre poeta do início do século passado, fiquei a pensar nestas questões. Porque se por um lado já antes tinha lido algumas coisas de Sá-Carneiro com um prazer significativamente menor do que o que tive ao lê-las agora, por outro, e apesar do dito acima, há entre a grande qualidade literária da maioria destes textos e o gosto que a sua leitura me causou um considerável fosso.

A questão, acabei por concluir, é a prosa de Sá-Carneiro pouco me ensinar, amarrada como está a uma conceção hiperromântica do mundo e da vida que nada me diz. Que, para ser brutalmente honesto, me parece até bastante ridícula, o que o narcisismo ora implícito ora explícito na maioria dos contos só piora. Para alguns leitores imagino que baste a literatura para ultrapassarem repulsas semelhantes pelas ideias e filosofia de base dos textos, mas para mim não basta. Mesmo pertencendo a grande maioria destas histórias à grande família da literatura fantástica sensu latu, que é aquela que costumo preferir.

Por outro lado, esta espécie de edição, em que se reúne num só volume a obra completa, todos os contos, novelas e romances, conjugada com a natureza idiossincrática da grande maioria dos textos, permite outra espécie de aprendizagem. Permite compreender bastante bem o autor e os motivos por que escrevia o que e como escrevia. E é por isso, parece-me agora, que a leitura destas histórias, aqui, me agradou significativamente mais do que quando li as que li dispersas. Esse foi o ensinamento mais relevante que retirei desta experiência: alguns autores só se compreendem verdadeiramente quando se lê tudo o que escreveram. Ou pelo menos tudo o que escreveram dentro de certos limites, mais ou menos latos, de técnica e/ou género literários (afinal, aqui só se encontra a prosa).

Daí que o veredicto final que a edição me deixa seja francamente positivo.

Quanto ao que achei individualmente das várias histórias, aqui vai a lista completa, dividida nas partes em que se divide o livro, as quais, à exceção da primeira, correspondem aos livros de prosa que Sá-Carneiro fez publicar:
Este livro pertence à biblioteca dos meus pais.

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