segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Lido: O Sorriso

Que sentimentos terão pelo passado os sobreviventes (ou os descendentes dos sobreviventes) de um cataclismo provocado pela espécie humana? Em mundos pós-apocalípticos desse género, o que farão essas pessoas daquilo que restou de um passado que se autodestruiu e lhes condicionou assim as vidas? E se esses restos do passado forem arte — a melhor arte — isso mudaria alguma coisa?

O Sorriso (bibliografia) é um desencantado conto curto, ambientado em 2061 (ou talvez não), em que Ray Bradbury reflete precisamente sobre essas questões. E as respostas que nos dá não são confortáveis. Datado de 1952, é mais um conto do pós-guerra, muito marcado pela destruição generalizada que tinha tido lugar poucos anos antes e por um grande ceticismo quanto à capacidade humana de conservar a civilização e o que esta nos traz. A história conta-se em duas linhas: um quadro famoso chega a uma cidadezinha para uma espécie de auto-de-fé, que todos acolhem bem à exceção de um rapaz que se deixa impressionar pela sua beleza. E age.

É um conto forte, de uma ficção científica que se mantém assustadoramente atual. Para ser um dos grandes contos de Bradbury falta-lhe apenas, creio, um desenvolvimento mais profundo. Mas é um bom conto.

Contos anteriores deste livro:

Sem comentários:

Enviar um comentário

Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de abusadores. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.