Que sentimentos terão pelo passado os sobreviventes (ou os descendentes dos sobreviventes) de um cataclismo provocado pela espécie humana? Em mundos pós-apocalípticos desse género, o que farão essas pessoas daquilo que restou de um passado que se autodestruiu e lhes condicionou assim as vidas? E se esses restos do passado forem arte — a melhor arte — isso mudaria alguma coisa?
O Sorriso (bibliografia) é um desencantado conto curto, ambientado em 2061 (ou talvez não), em que Ray Bradbury reflete precisamente sobre essas questões. E as respostas que nos dá não são confortáveis. Datado de 1952, é mais um conto do pós-guerra, muito marcado pela destruição generalizada que tinha tido lugar poucos anos antes e por um grande ceticismo quanto à capacidade humana de conservar a civilização e o que esta nos traz. A história conta-se em duas linhas: um quadro famoso chega a uma cidadezinha para uma espécie de auto-de-fé, que todos acolhem bem à exceção de um rapaz que se deixa impressionar pela sua beleza. E age.
É um conto forte, de uma ficção científica que se mantém assustadoramente atual. Para ser um dos grandes contos de Bradbury falta-lhe apenas, creio, um desenvolvimento mais profundo. Mas é um bom conto.
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