A Sinistra Aventura (bib.), de Miguel Carqueija, é um conto lovecraftiano que tenta usar duma forma divertida a atmosfera pulp das histórias do início do século XX, contemporâneas ao próprio Lovecraft, embora se desenrole "no tempo da exacerbação eletrónica". Um investigador é contratado, por uma baronesa absolutamente insuportável e pela filha, para encontrar o barão, pai duma e marido de outra, que terá desaparecido num portal dimensional à boa maneira dos exploradores temerários dos pulp mais antigos. E a história desenrola-se a partir daí, terminando, como é óbvio desde o início, com o barão encontrado, toda a gente vivinha da Silva e sem um arranhão, apesar do sítio a que o tal portal dimensional vai dar nos ser apresentado como muito perigoso, e a herdeira já a pensar em casamento com o destemido investigador, depois de ter passado com ele algumas horas.
Não sou, muito longe disso, fã dos pulps à antiga. Sempre achei a fórmula que utilizam simplória em demasia, e tão previsível que torna as histórias um aborrecimento pegado. Mesmo quando conseguem evitar seguir de cliché em cliché como quem atravessa um ribeiro por cima das pedras semeadas pelo seu leito sem chegar a molhar os pés. Como esta não consegue fazer isso, e julgo que nem sequer tenta, suponho que não seja de surpreender que não tenha gostado nada dela. Até porque, além de lhe encontrar o defeito do pulp, encontrei também outros. Achei-a, por exemplo, apressada, contando resumidamente uma história que exigiria uma maior elaboração para ser contada decentemente, e ocupando ainda por cima uma boa parte do texto com as discussões parvas entre mãe e filha, que não adiantam nem atrasam. Só um exemplo. Podia dar outros, mas julgo que não vale a pena: vocês já perceberam.
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