La Muerte del Capitán Futuro é a tradução espanhola de uma novela vencedora de um prémio Hugo: The Death of Captain Future, de Allen Steele. O original em inglês não parece estar disponível para leitura online ou download por meios legais, mas a tradução espanhola está, aqui.
Trata-se de uma história de ficção científica que presta uma homenagem dúbia a uma personagem da era dos pulps, o Capitão Futuro, herói intrépido do espaço, que foi muito popular nas revistas dos anos 40 e 50 mas depois caiu num esquecimento quase total... e provavelmente bem merecido. A homenagem é dúbia precisamente por isso. A novela recupera a personagem, de certa forma, e os ambientes, até certo ponto, mas fá-lo com muita ironia dirigida principalmente contra os consumidores desse tipo de historieta.
O protagonista é um selenita desesperadamente em busca de emprego, que acaba por aceitar um lugar a bordo da nave com pior reputação de todo o Sistema Solar. Pertence essa nave a um comandante que se auto-intitula Capitão Futuro mas, ao contrário da vigorosa personagem pulp original, é um homenzinho baixo e gordo e, pior um pouco, meio louco, que vive a vida parcialmente mergulhado no mundo de fantasia das velhas revistas que o fascinam. A alfinetada a certo tipo de público que enche as convenções de FC e banda desenhada é bem evidente, mas a verdade é que a própria história de Steele acaba por seguir com bastante fidelidade o esquema que as revistas popularizaram, mesmo que o herói tenha aqui muito de anti-herói (ou seja: é humano) e que o final feliz só o seja realmente para duas das três personagens principais.
Em geral, achei nesta novela uma releitura bastante interessante dos pulps. Uma releitura ambivalente, em parte tingida de cinismo, em parte de nostalgia. Isso pareceu-me mais importante do que a história em si, que pouco sai duma banalidade provavelmente propositada. Mas este tipo de ficção autorreferencial tem um problema sério: só funciona com quem faz pelo menos uma ideia daquilo que está por trás. Quem desconheça o que eram os pulps, quem julgue o termo por reinvenções modernas como o Pulp Fiction do Tarantino, pura e simplesmente não percebe. Não pode perceber. E não tem obrigação nenhuma de perceber. Daí que se corra o risco da autorreferencialidade degenerar em autofagia e ir encerrando o género num casulo cada vez mais impenetrável povoado por uma meia dúzia cada vez mais reduzida. Embora perceba a tentação de procurar inspiração no passado do género, e até goste de alguns dos resultados, não gosto nada da ideia.
Desta história, entretanto, gostei. Não posso dizer que tenha gostado assim muito, mas gostei.
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