Desvio Inesperado é um conto da escritora austríaca Vicki Baum que vai buscar aos contos de fadas exclusivamente aquilo que eles têm de pior. Passado nos Estados Unidos, aparentemente em meados do século XX, os protagonistas do conto são um escritor de auto-ajuda, cuja fama benigna não corresponde à verdadeira personalidade, mesquinha e caprichosa, e a sua eficiente secretária/assistente/motorista/faz-tudo. Em viagem de carro pelo Oeste dos EUA, a caminho de uma palestra em Los Angeles, os dois são obrigados a desviar-se do caminho por uma tempestade e pela ameaça de rotura de uma barragem, acabando por ficar presos numa cidadezinha rural. Aí, em menos de um dia, tudo nas suas vidas vai virar-se de pantanas. E quem não quiser spoilers é bom parar de ler agora mesmo.
O conto até podia ter algum interesse se não fosse tão estúpido. Mas a autora foi buscar aos contos de fadas o simplismo moralista das personalidades e das relações humanas e o "e viveram felizes para sempre", deitando fora tudo o resto. A secretária começa o conto solteirona e acaba-o noiva de um homem que conheceu horas antes e, claro, sem emprego. Afinal, mulher casada não trabalha. E, pelos vistos, noiva também não. O escritor, esse, sofre uma epifania qualquer, vê o erro do seu caráter mesquinho, e altera-o de um dia para o outro, acabando também ele noivo duma mulher que tinha acabado de conhecer. E coraçõezinhos cor-de-rosa esvoaçam por todo o lado por entre os chilreios dos passarinhos. Mas não, não esvoaçam, que o conto é deprimentemente realista, se desconsiderarmos o irrealismo de toda a premissa, personagens e situação. Não há nele magia. Mas há muita parvoíce. Muito conservadorismo bacoco. Muito romantismo de pacotilha.
Não sei se se nota que detestei esta coisa. Foi o primeiro texto que li de Vicki Baum. E vai ser, com toda a certeza, o último.
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