A Herança é uma noveleta de Pedro Medina Ribeiro que me deixou particularmente ambivalente. De novo em toada novecentista, mesmo vitoriana, tanto no tema como no próprio estilo literário que o autor emprega, conta uma história centrada na comunidade de armadores navais londrinos, dominada por um deles, indivíduo particularmente intratável que a todos odeia e que todos odeiam, e uma herança que deixa aos demais após morrer em circunstâncias misteriosas: detalhadas miniaturas dos barcos que os outros possuem, daquelas que se costumam ver dentro de garrafas.
Apesar de a princípio parecer excessivamente previsível, porque se torna demasiado fácil adivinhar o motivo por que o tal armador terá deixado aos demais as miniaturas, a história acaba por ter interesse pois, embora a princípio pareça, esse motivo não é o centro da trama, ou pelo menos não o é da forma que o leitor está à espera. Por aí, portanto, muito bem. O problema é que esta história foi aquela que me pareceu menos bem escrita, ou talvez menos bem revista. Há gralhas ou pequenas falhas de português aqui e ali, há uma personagem que "está remetida ao seu proverbial silêncio" logo depois de largar uma tirada em latim, há coisas assim, que não permitem a devida fruição da história.
E há aquele estilo em pastiche/homenagem dos escritores fantásticos do século XIX. É uma opção, talvez, e se o for até está bem conseguida. Mas decididamente não me agrada.
Contos anteriores desta publicação:
Sem comentários:
Enviar um comentário
Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de abusadores. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.