quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Lido: O Teste

O Teste (bib.), conto curto de ficção científica de João Barreiros, é ao mesmo tempo sátira e desabafo. Num futuro indeterminado, num Portugal mergulhado no caos e na hiperviolência, um professor prepara-se para arriscar a vida — que pouco vale — para fazer uma avaliação aos seus alunos; o teste do título. Mas, para seu horror, vai descobrir que as coisas não vão correr como espera, embora seja isso mesmo o que o leitor já espera dado tratar-se de um conto de Barreiros. Apesar de seguir um esquema que o autor já usou bastante, o conto é bastante bom: estilo, enredo e dimensão conjugam-se na perfeição e, embora seja previsível que as coisas corram mal, a forma concreta como isso acontece não o é. Já tenho mais dúvidas quanto às ideias que estão por trás deste conto. É que a noção de que a escola caminha para se transformar em zona de guerra povoada por professores que tentam fazer o melhor que podem e sabem mas estão de mãos atadas por um sistema ineficaz e rodeados por hordas de imbecis armados até aos dentes contribuiu decisivamente para a aberração em curso corporizada por um tal Nuno Crato. E o pior é que os dados de comparação internacional entre as nossas escolas e as dos outros — ou melhor, entre os nossos alunos e os dos outros — desmentem essa ideia com grande veemência. Ou seja: este conto, sendo bom, mostra as coisas como poderiam ser se fossem muitíssimo diferentes do que são. Apesar de ser compreensível que um "stor" cansado e farto do que faz se possa sentir assim de vez em quando, especialmente se lhe calharem em sorte aquelas turmas problemáticas que todos bem conhecemos, cheias de miúdos sem quaisquer perspetivas de futuro, sem qualquer sombra de motivação e/ou curiosidade intelectual.

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