terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Lido: O Dia em que Virgulino Cortou o Rabo da Cobra Sem Fim com o Chuço Excomungado

O Dia em que Virgulino Cortou o Rabo da Cobra Sem Fim com o Chuço Excomungado (bib.), título que até cansa escrever, é uma noveleta de Octavio Aragão que reinventa os acontecimentos ocorridos numa época conturbada da história brasileira, nos anos 20 do século passado, em que no Nordeste imperava o cangaço e um movimento político-militar chamado Coluna Prestes deambulava pelo interior do país a tentar promover a revolução. O Virgulino do título é o cangaceiro Lampião, provavelmente o mais famoso de todos, e a noveleta conta a história de um recontro (que aparentemente nunca terá acontecido, mas por pouco mais que acaso), e posterior encontro, entre a Coluna e o bando de Lampião. Não, não se trata de simples história secreta, pois uma misteriosa personagem intervém, fornecendo a ambos tecnologia aparentemente mágica: pistolas de raios ou um pó capaz de transformar qualquer coisa com motor numa terrível máquina de guerra.

Enquanto português, o meu principal problema com este conto foi a completa ignorância do contexto histórico em que se insere. Conheço, vagamente, a velha história do Nordeste brasileiro com o cangaço, mas até a encontrar aqui nunca tinha ouvido falar da Coluna Prestes, e não fazia a menor ideia do que tinha sido ou até de quando tinha sido. Para mim, como, julgo, para a generalidade dos meus compatriotas, todo o ambiente histórico em que a noveleta se insere é bastante obscuro. E esta é uma história que precisa de contexto para que as suas subtilezas possam ser devidamente apreciadas. Uma história muito brasileira, que provavelmente não funcionará lá muito bem junto de quem não o seja. Por outro lado, é educativa: pôs-me à procura de informação para ver se a entendia melhor. E quando a encontrei percebi que se a possuísse à partida teria gostado mais da história do que gostei. Porque, por exemplo, só a possuindo teria a consciência de que a coincidência de haver três ou quatro forças em presença simultânea nos arredores de uma cidadezinha nordestina, que causa uma grande confusão e é aparentemente forçada, não saiu da cabeça do autor, e é verdade histórica. Por estranho que pareça.

Contos anteriores deste livro:

1 comentário:

  1. Excelente resenha, Jorge. Sinto apenas ter sido curta, mas adorei. Muito agradecido.

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