Luísa Estrela, de Nuno Bragança, é um excerto de um trabalho mais longo, o romance A Noite e o Riso, no qual o autor traça um retrato de uma prostituta. Bastante bem escrito, com um estilo ágil e escorreito, este texto parece-me, no entanto, muito mais triste e deprimente do que humorístico, o que é problemático quando o integram numa antologia de humor. É um pouco o que acontece também com o excerto de Luiz Pacheco que li há tempos, embora este último seja um caso ainda mais extremo do que o primeiro. No excerto de Bragança ainda há algumas situações capazes de fazer nascer um sorriso nos cantos dos lábios, embora não passem disso. Por vezes parece-me que os organizadores da antologia (Nuno Artur Silva e Inês Fonseca Santos, já agora) são de opinião que basta um texto ser transgressor para ser necessariamente humorístico. Se assim é, trata-se de um ponto de vista com o qual não concordo. Há transgressão seriíssima, há transgressão melancólica, há transgressão raivosa, há uma variedade de tipos de transgressão que têm pouco ou nenhum contacto com o humor.
E aqui há transgressão, e farta, há literatura, e boa, mas, à parte uma cena em que a Luísa Estrela, prostituta, expulsa um cliente de dentro de si porque ele começa a rir-se e ela julga que se está a rir do seu trabalho, parece-me não haver humor algum. Desespero há muito, e com diversas facetas. Mas humor? Não me parece.
Em todo o caso, li o texto com gosto. É interessante.
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