Missa do Galo, de Machado de Assis, é um conto que tem muito pouco a ver com uma missa do galo. Contado na primeira pessoa por um rapaz de dezassete anos, membro da alta burguesia brasileira da segunda metade do século XIX, fala de uma tal D. Conceição, mulher de um homem que era viúvo de uma prima do narrador e que traía semanalmente a mulher, "indo ao teatro". A ida ao teatro era, claro, um eufemismo que Conceição aceitava com bonomia. Tanto o eufemismo como a traição, aliás. Toda esta situação é descrita em largas e rápidas pinceladas, para se chegar ao que a Assis interessa: a noite de Natal em que Conceição e o narrador (que está alojado em sua casa) entabulam uma perturbadora conversa carregadíssima de tensão sexual, madrugada fora, enquanto este espera uns amigos com os quais combinara ir à missa do galo. É um conto muito curioso pela justaposição da festividade católica, cheia da moral, bons costumes e o mais que as festividades católicas costumam trazer consigo (pelo menos na aparência), ao desejo carnal praticamente explícito, embora não satisfeito. Assis, no entanto, elabora o conto por forma a manter tudo muito subtil.
Ajuizando por esta amostra, Assis é bem capaz de merecer ser muito melhor conhecido do que é deste lado do Atlântico (o que até está a ser feito atualmente, com a inclusão de vários dos seus livros no Plano Nacional de Leitura).
Conto anterior deste livro:
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