sábado, 13 de abril de 2013

Lido: Recordações de Família ou o Anjo da Guarda Prisional

Recordações de Família ou o Anjo da Guarda Prisional é um conto de Jacques Prévert, divertido, violentamente iconoclasta, anticlerical, sobre... bem... recordações de família. Provavelmente. No fundamental, trata-se de um conto surrealista que troça descaradamente com os mitos do cristianismo, e faz profusas alusões a episódios da vida de Jesus, ainda que bastante sui generis, os episódios ou as alusões, bastante deformados relativamente à forma como os padres os contam. E retrata uma infância e uma família vistas pelo espelho deformador e episódico do sonho (ou será do pesadelo?). Bem escrito (e bem traduzido), numa prosa rica de imagens inesperadas e paradoxais como convém às coisas surreais. Mas a verdade é que se acaba a leitura e fica pouca coisa além de uma sensação de tempo bem passado a ler não se sabe bem o quê. A história é, toda ela, tão absurda que pouco ou nenhum impacto causa. Exceto, imagino eu, àquelas pessoas que lambem os beiços e salivam abundantemente à simples ideia de escalpelizar sonhos, de arrancar às coisas significados que nelas julgam ocultos. Suponho que essas encontrarão aqui abundante material para horas de divertimento. Para mim, que não sou cultivador de tal passatempo, a coisa esgotou-se em minutos. Mas diverti-me, não há disso dúvida. E acho o conto bastante bom. Não para todos os gostos (imagino que um beato ficaria com a tensão perigosamente alta), talvez, mas para o meu sim.

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