terça-feira, 1 de março de 2016

Lido: 2014 Campbellian Anthology - Marshall Ryan Maresca

Marshall Ryan Maresca está presente nesta antologia com um só conto, intitulado

Jump the Black. Trata-se de um conto muito interessante de ficção científica que, como a boa FC muitas vezes faz, está profundamente enraizado nos acontecimentos e preocupações do tempo de todos nós e do espaço que o autor habita. Fazendo lembrar alguns dos contos do nosso João Barreiros, mostra-nos uma Terra futura, após o contacto com inteligências alienígenas e por isso repleta de alienígenas de várias espécies. Maresca situa a sua história algures nos Estados Unidos do nosso tempo, ou pelo menos faz o seu protagonista ter vivido por algum tempo em San Antonio, Texas, não por acaso uma cidade fronteiriça com o México. Porque é precisamente disso que o conto trata: de fronteiras, de dificuldades económicas, de oportunidades e da vontade de fazer qualquer coisa para partir em busca de uma vida melhor. Mesmo que quem detém o poder não queira deixar. De emigração, em suma, pouco importa se legal ou ilegal, para fora de um buraco sem futuro, para algum lugar que é visto como uma espécie de salvação.

Hoje em dia, tanto no primeiro mundo como nos restantes, sabemos todos muitíssimo bem de que está Maresca aqui a falar... embora muitas vezes muitos de nós não queiram saber. Mas este conto força-nos a confrontar a realidade dos outros, dos que no mundo real imigram, porque o sítio atrasado e sem futuro que ele nos apresenta se chama Terra, este planeta em que vivemos, e é lá fora, no espaço, onde os alienígenas dominam, que os desesperados julgam existir as oportunidades. Aqui, neste futuro imaginado, o espaço é os Estados Unidos (e a Europa) do mundo contemporâneo, a Terra o inferno de onde toda a gente quer fugir, mas os problemas e as ambições são os mesmos.

Sim, este conto conta uma história, a história de um candidato à emigração. E de uma forma bastante terra-a-terra; não se trata de nenhum panfleto. Mas não deixa por isso de ser um conto completamente político. E ainda bem que o é.

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