Começos é um interessante e muito surreal conto metaliterário de Robert Coover, do qual nunca tinha lido nada. É americano. Trata-se de um daqueles contos muito conscientes de serem literatura, o que pode ser catastrófico, em especial quando se levam demasiado a sério. Mas neste caso não é, longe disso, pois este conto é dos que se levam a sério não levando, ou não levam levando, pois os paradoxos, a forma como a literatura que o protagonista escreve se interliga com a literatura que o protagonista vive na literatura que o autor escreve, são aquilo que lhe dá vida. Ah, sim, e o humor. Doses pesadas de leveza humorística, por vezes sombria (o conto começa com a informação de que o protagonista/autor "para poder começar foi viver sozinho para uma ilha e matou-se a tiro"), outras mais límpida, a qual, ligada a outras formas de apresentar o inesperado, vão levando quem lê, levemente, páginas fora. Acho provável que vocês não estejam a perceber nada do que estou aqui a dizer, o que também tem o seu quê de paradoxal, porque se lessem o conto perceberiam, mas se o lessem aquilo que aqui escrevo tornar-se-ia plenamente inútil. Sim, estou a sorrir.
E sim, gostei desta história, embora pouco nela seja história. Talvez por eu próprio também escrever, coisas diferentes, e por isso saber umas coisas sobre os começos em literatura. É esse o tema base: os começos em literatura. De tal forma que não seria estranho que alguém dissesse que esta história é composta por começos, mesmo quando o seu tema é a condição do escritor. Porque também é. Confusos?
Ainda bem. Já perceberam tudo.
Contos anteriores desta publicação:
Sem comentários:
Enviar um comentário
Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de abusadores. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.