Desde que me lancei na aventura de fazer o Bibliowiki, já vai para dez anos (xiiii!) parte das minhas leituras é determinada pela curiosidade de saber se o livro X inclui fantástico, como por algum motivo me parece poder acontecer, ou se trata apenas de falso alarme. Makas da Banda é um desses casos. Quando surgiram as notícias sobre a iminente falência da Campo das Letras corri para o site da editora e vasculhei-o, tão exaustivamente como o tempo permitiu, em busca de livros que de alguma forma pudessem interessar ao Bibliowiki. A sinopse desta novela de Xakolo Monangumba chamou-me a atenção, amplificada por se tratar de um autor angolano, país de que há escassíssimas notícias sobre produção de fantástico à parte um habitué chamado Agualusa, e encomendei-o.
E sim, demorei a lê-lo. Também é costume.
Afastando desde já a curiosidade: é falso alarme. Existem neste texto algumas piscadelas de olho ao fantástico, mas são arroubos poéticos claramente fantasiosos no contexto da narrativa, que é essencialmente realista, ou então referências mais ou menos oblíquas a certos momentos e figuras, não fantástico propriamente dito.
O livro trata sobretudo de Angola, da sua história e da sua política, tanto pré como pós independência (mais pós), numa narrativa com aspirações poetizantes que vai avançando de episódio em episódio de uma forma que parece ter muito de autobiográfico. Há personagens, sim, há diálogos e essas coisas de que costuma fazer-se a ficção, mas não se nota uma verdadeira vontade de construir personagens ou uma narrativa realmente ficcional, antes esta e aquelas parecem servir sobretudo para transmitir ideias sobre o verdadeiro protagonista do livro: o país em si mesmo e o seu povo.
É frequente encontrar em livros de autores angolanos uma certa busca por uma identidade, uma permanente interrogação sobre o que significa afinal, ao certo, isso de ser angolano. Não é caso único; também se encontra idêntica interrogação em alguma literatura portuguesa. Mas na angolana que tenho lido ela faz-se particularmente premente e, de todos os livros angolanos que já li, este talvez seja aquele em que é mais óbvia, não só, mas também, pela abundância de palavras e expressões em kimbundo, que chegam ao próprio título. Makas são problemas. A Banda, aqui, é Angola.
Para alguém de fora, para os outros lusófonos e até, imagino, para angolanos cujo substrato linguístico seja outro (o kimbundo é apenas uma das duas ou três dezenas de línguas nacionais em Angola, ainda que seja das mais importantes), essa profusão de expressões em kimbundo tende a tornar a leitura algo pesada, o que é incentivado pela propensão de Monangumba para a frase de efeito poético e para o diálogo declamatório. Estas últimas características são coisas que não costumo gostar de encontrar no que leio, e este livro não foi exceção. Por isso, e apesar de lhe reconhecer interesse, particularmente para os leitores mais curiosos sobre Angola, a sua história e as suas gentes, não gostei muito desta leitura.
Este livro, como se viu mais acima, foi comprado.
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