Clifford D. Simak é um dos escritores de ficção científica mais originais de meados do século XX, com um conjunto de obras singulares que por vezes não passam disso, de obras singulares, mas por vezes ascendem à condição de clássicos. E Viajantes do Tempo (bibliografia) é, certamente, uma obra singular.
Tudo gira em volta do "Anzol", um misto de empresa de investigação e desenvolvimento e laboratório público, num planeta Terra (ou nuns Estados Unidos, o que demasiadas vezes na FC americana é uma e a mesma coisa) resignado a nunca poder partir realmente para o Espaço. Mas felizmente foi possível encontrar uma maneira alternativa de explorar o universo, através de pessoas especiais, dotadas de capacidades paranormais amplificadas por maquinaria.
Shepherd Blaine é uma dessas pessoas. Mas um belo dia, ao explorar um planeta distante, é "infetado" por uma criatura alienígena que se aloja (parcialmente, pelo menos) no seu cérebro. E a partir desse momento passa a fugitivo.
Segue-se uma história contada mais ou menos em jeito de thriller, movida pelas peripécias da fuga de Blaine, pelas suas dificuldades em adaptar-se à sua nova natureza dual, ou pelo menos em gerir a presença alienígena em si, enquanto as pessoas do Anzol procuram apanhá-lo e pô-lo de quarentena. Mas também, e é isto o mais interessante no livro, pela lenta revelação da verdadeira natureza do Anzol (uma corporação que se serve da exploração do espaço por via extrassensorial para pôr no mercado inovações tecnológicas exclusivas), e da sua condição de corpo estranho numa sociedade que o olha, e a todos os que lá trabalham, com sentimentos que vão da desconfiança à aberta hostilidade. Hostilidade essa que se estende a todos os que revelem possuir dons.
Uma hostilidade claramente xenófoba.
O grande problema deste livro é ter um enredo bastante pobre. É a fuga de Blaine e pouco mais, mesmo havendo também umas reviravoltas que vão além disso, pois Blaine é ajudado (ou desajudado, depende) por um grupo que se opõe ao Anzol por motivos diferentes da generalidade das pessoas. Isso torna-o um pouco aborrecido, por vezes. Mas tem bastantes pontos de interesse, em especial quando pensamos que nos dias que correm uma história baseada em parte em sentimentos xenófobos que levam à perseguição intolerante do diferente tem absoluta relevância. É um bom livro. Mas será bom o suficiente para ascender a clássico?
Não, não creio que o seja.
Este livro foi comprado.
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