Uma das formas de criar em literatura uma sensação de horror, de pesadelo, é colocar o protagonista a fazer os possíveis por comunicar com os outros e ninguém o entender, seja porque não compreendem mesmo o que diz, seja porque nada consegue dizer, seja porque não querem ou não podem aceitar a verdade do que diz. São frequentemente histórias muito simples, pois a contínua repetição da tentativa gorada de comunicação não se presta a grande complexidade estrutural, mas são também com frequência histórias muito eficazes.
E é isso mesmo que Ray Bradbury faz em A Mulher Gritando (bibliografia), servindo-se também de um outro estratagema que usou em vários contos: a dissociação entre o mundo dos adultos e o das crianças.
Aqui, a protagonista é uma miúda de dez anos que um dia, ao percorrer o terreno baldio atrás de sua casa, ouve uma mulher a gritar e depressa percebe que os gritos vêm do chão. Segue-se uma série de peripécias, com a miúda a tentar convencer os adultos de que está uma mulher a gritar debaixo da terra e ninguém a acreditar, o que acaba por a levar a decidir cavar ela própria, o que é posto pelos adultos na conta de brincadeiras, e termina com um final não muito surpreendente, mas com a sua subtileza. É outro bom conto. Não dos melhores, mas bom.
Contos anteriores deste livro:
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