Elvis le Rouge, tradução francesa de Red Elvis, é uma noveleta de Walter Jon Williams que acompanha a vida e carreira dum Elvis alternativo. Mesmo para quem, como eu, não sabe muito sobre a vida e carreira de Elvis Presley (não sou da geração certa, suponho), é fascinante acompanhar o modo como Williams mostra o efeito que têm as influências sobre o trajeto de vida das pessoas e, em última análise, sobre o próprio desenvolvimento histórico das nações e da espécie. Elvis, aqui, é um rebelde não apenas social e de costumes, como foi na vida real, mas também político. O Elvis verdadeiro, apesar de inevitavelmente ter contactado com as realidades do mundo do trabalho assalariado, dada a sua origem humilde, estava demasiado embrenhado na cultura conservadora e furiosamente religiosa do Sul dos EUA para poder, por si só, ganhar ideias de esquerda. Mas aqui, o Elvis alternativo de Williams é influenciado por um rapaz oriundo da proletária Chicago, seu companheiro de rock and roll, que já de lá vem com uma forte consciência de classe e orientação política bem apontada para a esquerda. E o desenvolvimento subsequente, não só das ideias de Elvis, como da sua própria carreira, vai ser em boa parte determinado por esse encontro e influência. Uma história muito interessante que só peca, a meu ver, pelo final surpresa que achei muito desnecessário e destrói boa parte daquilo que o conto vai construindo, voltando a atirar para a esfera da idiossincrasia pessoal aquilo que vinha sendo atribuído desde o início à das influências sociais. Bem sei que muitos fãs de FC&F se pelam por finais inesperados, e que por isso acharão a história melhor precisamente por ter um final inesperado, mas neste caso em concreto achei que esse final acabou por diminuir a história, e isso, obviamente, não é bom.
Mas a história, como um todo, é. Bastante boa mesmo.
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