domingo, 25 de julho de 2010

Lido: A Sombra e o Clarão

A Sombra e o Clarão é outro conto de Jack London, e finalmente temos aqui algo que está como peixe na água numa coleção de literatura fantástica. Trata-se de um conto de ficção científica (ou melhor, de proto-FC) que descreve as nefastas consequências de uma rivalidade antiga entre dois amigos/inimigos de infância, cada um mais brilhante do que o outro. No esforço constante para superarem o adversário, acabam ambos por dedicar-se à busca da invisibilidade. Um deles dedica-se ao estudo da ausência da luz, da sua absorção pelo negro absoluto; o outro ao da transparência igualmente absoluta. O narrador, um amigo de ambos que desde sempre teve o papel de moderar os excessos dos amigos e contemporizar, vai acompanhando o desenvolvimento das investigações e acaba por ser testemunha do desenlace de toda a história.

É um conto interessante, e só não o achei realmente bom porque me fez lembrar demasiado O Homem Invisível, de H. G. Wells, publicado alguns anos antes de London escrever esta sua história, e também porque o autor cometeu um erro lógico importante: é certo que no negro absoluto toda a luz é absorvida. Mas um objeto que fosse pintado com uma tinta totalmente absorvente seria perfeitamente visível desde que houvesse alguma luz a incidir sobre aquilo que rodeia esse objeto. O objeto propriamente dito talvez não se visse, mas ver-se-ia na perfeição o seu contorno, por contraste. E só não existe luz nas noites mais encobertas, que tornam tudo invisível. Esse erro, grave porque o desaparecimento através do absoluto negrume é um dos pilares do enredo, destruiu a suspensão da descrença aqui para este leitor, e não lhe permitiu desfrutar convenientemente do conto. É pena, até porque, como seria de esperar, o conto está bem escrito.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de idiotas. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.