Ligeia (bib.) é um romanticíssimo conto de Edgar Allan Poe que conta uma história de tragédia, amor e morte, à boa maneira romântica, mas com um lado fantasmagórico. A história, contada na primeira pessoa e muitíssimo bem escrita, apresenta Ligeia como o verdadeiro amor do narrador, um opiómano. Ligeia é duma beleza transcendental; Ligeia é duma inteligência tal que não se encontra noutras mulheres; Ligeia é um modelo de perfeição, mas é também uma mulher doente que acaba por morrer deixando o narrador desfeito em pó, como ele diz. Mas um homem não é de ferro, e aquele volta a casar, agora com uma tal Rowena, mulher que detesta... e que adoece, também ela, e acaba por morrer. Mas ao contrário de Ligeia, que quando morre fica morta, no velório de Rowena esta agita-se e como que ressuscita, mostrando ao marido os olhos de Ligeia.
Aquilo que mais me impressionou nesta história foi a sua qualidade literária. Nunca gostei do tom excessivamente sentimental da prosa romântica, que não raro borda a lamechice (ou nela penetra a fundo) e por isso não consegui realmente gostar deste conto, mas que ele está otimamente escrito é inegável. E tem outra coisa boa: há várias interpretações possíveis para vários pontos do enredo. É possível, por exemplo, ver na doença e morte de Rowena uma vingança do fantasma de um primeiro amor, e mesmo essa vingança pode ter várias explicações possíveis. Quem gosta de dissecar este tipo de coisa tem aqui um pratinho cheio. Só histórias de qualidade conseguem tal feito.
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