sexta-feira, 2 de julho de 2010

Lido: Stories For Men

Stories For Men, de John Kessel, é uma novela de ficção científica dura ambientada numa colónia lunar onde impera um sistema ferozmente matriarcal, no qual, sob uma aparência de igualdade teórica, os homens são cidadãos de segunda classe e estão, em grande medida, reduzidos a tarefas de reprodução e/ou trabalhos secundarizados pela sociedade, nomeadamente os artísticos. Tudo sustentado em teorias sociológicas baseadas na propensão masculina para correr riscos estúpidos, coisa que num ambiente tão hostil como o lunar pode significar pôr em risco toda a colónia.

O protagonista é um jovem ressentido com este estado de coisas, que se deixa influenciar por um comediante desbocado, o qual pretende, com a sua comédia politicamente incorreta, agitar as consciências e levar a uma revolução masculina. Um agitador machista, no fundo. As autoridades, claro, quando se apercebem do rumo que as coisas levam, caem sobre ele, embora não com os efeitos pretendidos. Pelo menos não imediatamente.

Trata-se de uma excelente história. A criação social, apesar de claramente baseada no modelo americano, está muito bem feita e deixa tudo miuto verosímil, seja o sistema social propriamente dito, sejam as reações dos vários protagonistas às condicionantes que a sociedade lhes impõe. Mesmo que durante boa parte da novela esta pareça ideologicamente agarrada a uma defesa feroz das mais machistas ideias da direita americana, o final é suficientemente ambíguo (e credível, ainda e sempre) para deixar, afinal, tudo em aberto. Tenho a certeza de que, consoante as inclinações ideológicas de cada leitor (sobretudo, mas não apenas, no que toca às questões de género), assim será a sua interpretação da bondade ou maldade dos atos dos principais protagonistas.

E não me parece que alguém consiga evitar ficar a pensar quando acaba de ler esta história, o que, quando acontece, é sempre um bónus agradável.

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