Quando a tecnologia evolui, há inevitavelmente um elemento de nostalgia no que é deixado para trás. Ray Bradbury deu muitas vezes voz a essa nostalgia, pondo frequentemente em contraponto uma imagem idílica dos usos, costumes e aparelhos da infância com o caráter frio e impessoal que via na modernidade ou pós modernidade, presente ou futura. Trata-se, naturalmente, de uma ideia conservadora por natureza: nem o mítico outrora teve alguma coisa de idílico, nem o presente (ou o futuro) é despido da sua própria poesia.
O Bonde (bibliografia) é um conto curto de uma fantasia quase mainstream que se insere nessa vertente da obra bradburiana. O enredo centra-se numa última viagem feita por um grupo de miúdos no elétrico (ou bonde, nesta edição brasileira) que costumava levá-los para a escola e vai fechar para ser substituído por autocarros. É um conto bonito, muito bem escrito, com as imagens poéticas certas nos sítios certos e uma dose muito ligeira de fantasmagoria a acentuar-lhe o sabor. Mas não é um grande conto. É bom: bonito, simpático e nostálgico, mas está longe de atingir o patamar do inesquecível.
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