Peregrinação (bib.) é um conto de Almeida Faria que descreve, assumidamente, um sonho. Conta uma história de amor que, nas palavras do autor, não é nem verdadeira nem verosímil mas é bem real. E conta-a, como bom sonho que é, de uma forma onírica, algo incoerente, repleta de saltos temporais e narrativos, cheia de cenas surreais que só com uma valente dose de interpretação simbólica se conseguem encaixar na história principal. É um bom retrato do caráter caótico dos sonhos, mas já tenho menos certezas sobre se será um bom conto. Como já disse várias vezes, gosto do meu surrealismo controlado, com um fio condutor percetível, e o que aqui existe — que existe um — é com frequência ténue, julgo que em demasia. De vez em quando deixa de se ver para reaparecer mais adiante. Por outro lado, está bem escrito. Por outro lado ainda, é daqueles contos que se leem e começam imediatamente a desaparecer da memória até só restar deles aquela vaga impressão com que por vezes acordamos depois de termos sonhado. Seria essa a intenção do autor? Ignoro. Mas não me agrada por aí além.
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