Imaginação Morta Imagina é um texto de Samuel Beckett que não sei bem como qualificar. Prosa poética, de certa forma, não parece adequado. Mas o texto é em prosa, e partilha com a poesia a preocupação quase obsessiva com o ritmo da linguagem. Fala, de uma forma talvez impressionista, certamente surreal de... de quê, ao certo? Abstraindo-me das notas do tradutor, mais longas que o próprio texto, a sensação que me dá é este tratar-se de um artifício quase puramente linguístico, sem grande conteúdo exterior ao texto propriamente dito. Talvez porque, sempre que um texto exige doses elevadas de exegese para nele se vislumbrar significados, eu tenda a desconfiar de que esses significados estão mais na cabeça do exegeta do que na do autor, de que este talvez se tenha limitado a pregar aos seus leitores uma grande partida e assiste a um canto, entre gargalhadinhas, à confusão que lançou. Nunca acredito muito nas interpretações que se fazem de textos deste género... nem mesmo nas minhas. E raramente gosto deles, mesmo quando lhes reconheço qualidades. Este texto de Beckett é um bom exemplo. Parece-me fenomenal em termos de tratamento da língua, mas não lhe encontro muito mais motivos de interesse.
Uma palavra adicional apenas para falar da tradução. Basta uma. Fabulosa.
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