Quem não perceba de imediato a referência contida no título dificilmente deixará passá-la no início deste continho, que se refere a uma "aldeia da Mancha" de cujo nome o narrador recusa lembrar-se e, se deixar, só pode ser por nunca ter passado os olhos pelo Dom Quixote de Cervantes. Mas Luiz Bras não se limita a tirar o chapéu ao espanhol com este Coronel Pança em Pânico; se dá início ao conto com uma aparência de simples homenagem, depressa pega no caráter alucinatório da cruzada do cavaleiro hispânico contra os moinhos de vento e a extrapola, dando-lhe a volta, acabando por construir um continho de ficção científica surpreendente, muito bem congeminado e igualmente bem escrito, sobre uma ação militar que se volta contra quem a comete e tem a ver com granadas de gás alucinogénico. O narrador, em primeira pessoa, é, percebe-se, o tal Coronel Pança (chamar-se-á Sancho? Quiçá), a voz da sensatez no meio da loucura, como não poderia deixar de ser, e ele lança ao mundo um alerta contra o delírio. Infrutífero? Luiz Bras não nos diz, mas quer-me parecer que sim.
Um continho delicioso, este. Dos melhores de todo o livro, pelo menos para já.
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