Mantemo-nos ainda na secção de "notícias", onde João Ventura torce de forma curiosa o conceito de steampunk, escrevendo um artigo de jornal muito típico e também muito verosímil, que não faria má figura em qualquer coluna de curiosidades (aliás, Este Nosso Vasto Mundo podia perfeitamente ser título de uma coluna dessas) de qualquer jornal ou revista do século passado. Descreve o artigo um culto à carga, descrito durante um congresso de antropologia, que se teria desenvolvido numa ilha da Polinésia e teria como centro de adoração o motor a vapor de um navio encalhado. A habitual ironia de Ventura está aqui presente e a forma redonda com que o conto/artigo é fechado atenua a sensação de que seria mais interessante ler uma ficção mais desenvolvida sobre o dito culto, o povo que lhe deu origem e a proveniência da maquineta a vapor. Ventura especializou-se neste tipo de ficções ultracurtas, frequentemente envoltas em roupagens jornalísticas, ou quase, e fá-las muito bem. E uma das razões para as fazer muito bem é saber evitar deixar água na boca dos leitores. Ou saber deixar pouca, pelo menos. É isso o que faz aqui: deixa, mas pouca.
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