Uma mulher aterrorizada espera o marido neste continho de quatro páginas. O título, No Útero da Mãe, dá algumas pistas do porquê, mas é no decorrer do conto que Ricardo Lopes Moura as concretiza melhor. A mulher está aterrorizada porque o marido tem tendência para explodir em violência quando é contrariado, quando as frustrações e a pobreza levam a melhor sobre o seu autocontrolo, e no útero da mãe, no seu útero, há algo que, pensa ela, vai fazer com que a explosão aconteça com uma força até aí inaudita. O que de facto acontece não é bem o que está à espera.
Este é um conto inteiramente vinculado ao real, mas onde o terror não deixa de estar presente. Um terror psicológico, movido a abuso e a violência, e Lopes Moura constrói toda a história de uma forma razoavelmente subtil. Infelizmente, o desfecho é demasiado delicodoce para a realidade mais comum dos factos; não que a espécie de redenção que aqui nos é descrita não possa acontecer, mas a triste realidade é que com grande frequência as relações abusivas permanecem abusivas até chegarem ao fim... e, dizem-nos as estatísticas, demasiadas vezes esse fim é uma morte.
Em todo o caso, isto é um conto e, não fossem algumas fragilidades na escrita, penso que poderia ser um bom conto, pois não é nada fácil criar uma densidade psicológica tão grande em meras quatro páginas de texto.
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