Um leve cheirinho a ficção científica não ajuda a salvar esta história de Liliana Novais, porque cai numa armadilha fatal de que já falei por aqui algumas vezes. E de que vou voltar a falar agora. E que exige spoilers para nela falar, pelo que façam favor de ir passear para outro sítio de por acaso forem alérgicos a tal coisa.
OK, os alérgicos já foram todos embora, vamos lá aos spoilers.
A ideia deste Morte Branca é divertida num sentido razoavelmente disparatado para o termo. Nada há nisso de mal: ideias disparatadas podem dar boas histórias se forem executadas da forma certa, e de resto esta ideia não é mais disparatada que a dos kaijus, com os quais, de resto, tem muitos pontos de contacto. Mas também tem uma diferença de vulto: o kaiju, aqui, é um coelho branco, não um monstro reptiliano e disforme. Um gigantesco e devorador coelho branco. E está explicado o título.
O grande problema é estar narrada na primeira pessoa, e no pretérito imperfeito, por alguém que vai enfrentar a morte, e que o sabe, e que deixa o final em suspenso, o que implica que essa morte aconteceu de facto. E a questão berra, inescapável: se o narrador morreu, quem diabos narrou a história?!
Com a suspensão da descrença desfeita, o conto desfaz-se. E bastaria, por exemplo, colocar a voz narrativa no presente para resolver esse problema. Mas ficariam outros detalhes a não permitir que ela fosse boa, como por exemplo a autora parecer não conseguir decidir se pretende fazer uma história engraçada ou tensa, ficando algures a meio sem lograr alcançar nenhum dos dois efeitos.
Este não é um bom conto.
Conto anterior deste livro:
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