quarta-feira, 14 de julho de 2010

Lido: A Queda da Casa de Usher

A Queda da Casa de Usher (bib.) é um dos mais famosos contos de Edgar Allan Poe, e provavelmente de toda a literatura de horror. Como muitos outros contos do género e da época, começa quando um cavalheiro chega a um misterioso casarão, que desconhece, e cujo proprietário é, neste caso, um seu velho amigo de juventude. Tal como em O Escaravelho de Ouro, também nesta história o companheiro que o protagonista vai encontrar mostra sinais de perturbação mental, mas aqui a coisa é mais negra. A irmã de Roderick Usher, o protagonista, está moribunda, e com o desenrolar da história vamo-nos apercebendo de que na realidade é a casa que é assombrada e cobra um preço elevado aos seus donos. Ou que estão todos, casa e donos (e estes entre si), ligados por algum tipo de identidade, de destino comum.

É outro conto que já tinha lido há muitos anos e do qual praticamente não me lembrava. Ou antes: lembrava, mas por vias travessas. Pois este é outro caso de um conto vítima do seu próprio sucesso e de ter sido imitado e reinventado até à exaustão nos quase dois séculos que passaram desde a sua publicação, incluindo numerosas adaptações para outros media. Lê-lo, hoje (e ainda mais relê-lo), é saltar de déjà vu em déjà vu e de cliché em cliché. Estes não o eram quando Poe publicou a sua história, mas hoje já o são. Mais do que clichés, são clichés batidos. Logo, a história perde impacto. Fica o facto de ser uma das primeiras, uma das fontes a que uma miríade de autores menores foi mais tarde beber (embora ela própria tenha também as suas fontes), o interesse intelectual que isso causa, o facto de se estar a ler uma história muito bem escrita e pouco mais. Mas o que fica não é realmente pouco. Porque neste conto, além da ideia e da tentativa de causar um impacto emocional a quem o lê, que são destruídas pela repetição, existe basta dose de literatura, que não o é. E é precisamente por isso que esta história continua ainda hoje a ser uma boa história.

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