quinta-feira, 6 de maio de 2004

Resmungo redondo que rola

O Luís N volta e meia lança desafios. O último foi escrever um conto em 5 minutos sobre um de cinco temas à escolha. Eu escolhi o objecto que esteja perdido e o conto é este:


Ah, não, não, não, não me hão-de encontrar. Nem que para evitar as garras destes tipos grandes e compridos tenha de me meter pelas fendas da calçada abaixo, por um algeroz, por uma corrente fria de água da chuva. Não. Estou farta de ser manuseada, de passar de mão em mão, de saltitar quando um palerma qualquer me põe a girar em cima de uma mesa de plástico a imitar mármore e fica a olhar para mim, de sorriso parvo estampado na cara. Farta. Fartinha, fartíssimíssima. Chiu. Vem ali um.
...
Como ia dizendo, ah, não, não me hão-de encontrar. Gostava de estar caída em terra para cobrir-me de folhas e não ter o sol aqui por cima a fazer-me brilhar. Metal. Ser metal é uma chatice, e ser redonda mais chatice ainda é, excepto quando me deixo cair e me ponho a rodar, rodar, rodar, para fora do alcance da mãos banhadas em ganância gordurosa. Ah, as mãos gordurosas! Que nojo! Que asco! Que porcaria de vida, esta de ser moeda. Mas chiu. Ali vem outro.
...

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