domingo, 12 de maio de 2013

Lido: A Formiga Eléctrica

A Formiga Eléctrica (bib.) é um ótimo conto de Philip K. Dick sobre um homem que, um belo dia (ou talvez nem por isso muito belo) dá por si no hospital... e descobre que não é homem nenhum mas sim um robô humanoide, ou um androide ou, segundo a terminologia de Dick, uma formiga elétrica. Como seria de supor, uma tal descoberta vai virar-lhe a vida de pantanas, mas de uma forma que é ao mesmo tempo muitíssimo dickiana e algo datada.

O conto é de 1969, portanto são praticamente inevitáveis alguns anacronismos de monta, até porque Dick nunca foi dos autores mais atentos aos aspetos técnicos da FC que escrevia. Ora, como naquela época a tecnologia de ponta em termos de suporte físico para os programas informáticos eram cartões ou fitas perfuradas, lidas em leitores óticos, o que Dick faz é pressupor a miniaturização desse tipo de suporte, e desenvolver o conto em volta desse tipo de tecnologia. Claro que hoje isso soa algo ridículo... mas a verdade é que neste caso até funciona.

Porque não é na ideia tecnológica que Dick se foca, vai muito para além disso. O que lhe interessa é, como aliás é seu timbre, a natureza da realidade e a forma como os que intervêm na realidade dela se apercebem. Porque a formiga elétrica, quando descobre sê-lo e se informa sobre o modo como funciona, vai pôr-se a fazer experiências. Como? Manipulando a fita de dados miniatural que tem instalada no peito, a qual não é propriamente uma fita de programação, mas uma forma de criar a realidade em que o androide se move. Com resultados bizarros, mas que não poderiam ser mais dickianos.

E a ideia de Dick é, evidentemente, falar de nós. O protagonista do conto não faz ideia alguma de que não é tão humano como todos os que o rodeiam... faremos nós? Poderemos ter certeza? E mesmo que sejamos, o que nos impede de termos também algures cá dentro uma qualquer espécie de gerador de realidade? A resposta de Dick é: nada. E esta resposta, que Dick foi dando consistentemente ao longo de toda a obra, raramente fica tão clara como neste conto.

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