O Homem que Plantava Árvores é um conto bucólico de Jean Giono, passado algures no sul dos Alpes franceses, sobre um homem que dedicou a vida a plantar árvores. O narrador é (ou começa por ser) um jovem que gosta de caminhar sozinho pelo campo, à aventura, e um belo dia, perdido nas montanhas desoladas, cheio de sede e sem água nem onde a consiga encontrar, depara com um pastor que o ajuda. O homem interessa-o, pelos seus modos reservados e o mistério que neles entrevê, e vai-se deixando ficar até descobrir que o passatempo do outro é plantar árvores. Passa-se tudo isto no início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial, e o conto vai depois seguindo sucessivos regressos do narrador ao mesmo local, acompanhando a transformação na paisagem operada por aquele homem isolado e pela sua imperturbável atividade ao longo das décadas, à revelia de quaisquer autoridades, cuja única ação é constatar, surpreendidas, o aparente milagre do surgimento de uma nova floresta onde antes nada existia, e mais tarde declarar essa floresta património protegido.
Trata-se não só de um conto profundamente ecológico, mas também de uma história otimista, com a clara mensagem de que alguém, sozinho, se tiver suficiente persistência e habilidade, se a isso se dedicar de corpo e alma, pode de facto mudar o mundo. Talvez seja um bom conto para os dias que vivemos, tão vazios de motivos de esperança. Talvez nos indique que o melhor lugar para os procurarmos é em nós próprios. Talvez. O que é certo é que este é um bom conto; um conto bem escrito, bem concebido e bem desenvolvido.
Curiosamente, visto que nada tem de ficção científica ou até de qualquer espécie de fantástico, esta história fez-me lembrar com insistência um conto de Bradbury, A Manhã Verde, no qual um homem, sozinho, obcecado, planta árvores em Marte ao longo de quilómetros e quilómetros e mais quilómetros, num esforço que tanto quanto sabe pode perfeitamente ser fútil, até que um belo dia a floresta brota da poeira estéril do planeta. A ânsia por levar vida a um mundo morto é a mesma, bem como o isolamento e a dedicação obstinada do protagonista. É possível que Giono tenha tido contacto com o conto de Bradbury, que antecede o seu em três anos, mas parece-me mais provável que se trate de criatividade paralela. Seja como for, são dois tratamentos diferentes da mesma ideia, embora com muito em comum. E se me perguntarem qual é melhor, eu hesitarei em dar uma resposta, pois os pontos fortes e fracos de cada uma são demasiado diferentes para permitirem uma comparação fácil.
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