A Boneca do Destino (bibliografia) é um muito estranho romance de ficção científica de Clifford D. Simak. Um aventureiro espacial caído em desgraça é contratado por uma caçadora para uma expedição a um planeta mítico e distante, onde, julga ela, se perdeu um tal Lawrence Arlen Knight, dito o Viajante, aventureiro e explorador. Em parte por causa do desafio, em parte porque lhe permite não ser encontrado por algumas pessoas que deseja manter afastadas, o aventureiro aceita. Mesmo sendo a nave da caçadora dirigida por um navegador cego que ouve vozes, ou algo do género, e que a sua tripulação se componha de um tal "Frei Tuck" (sim, o nome é o do companheiro do Robin dos Bosques), aparentemente inútil, e com o qual o aventureiro antipatiza desde o primeiro momento. Sentimento que, aliás, é mútuo.
A este bizarro grupo de pessoas vai Simak juntar mais à frente um mais bizarro ainda planeta, que parece funcionar como uma armadilha para viajantes interstelares (nesse sentido fez-me lembrar o planeta Ahapooka, do Gerson Lodi-Ribeiro), pois pouco depois de aterrarem e sairem da nave esta é coberta por uma substância branca completamente inviolável, isolando-os da sua única forma de regressar ao espaço.
E no planeta vão, claro, encontrar outras criaturas, várias das quais robóticas, incluindo uns muito estranhos "cavalos de baloiço", robôs semelhantes a... bem... a cavalos de baloiço que, em vez de ficarem parados no mesmo sítio, usam o baloiço para se deslocarem.
Tudo muito esquisito. Muito esquisito.
E tudo muito esquemático, também. A cidade em que aterram é esquemática e quase vazia, como esquemáticas e quase vazias são as paisagens que vão atravessando na demanda para encontrarem o Viajante Knight, como esquemáticas e de certa forma igualmente vazias acabam também por ser as personalidades e as relações interpessoais que se formam. É um pouco como se Simak quisesse escrever uma alegoria (e há alguns trechos com ressonâncias bíblicas, como um vale que os viajantes encontram cheio de ossos secos) mas a tivesse deixado ou pelo esboço, ou demasiado obscura. O que, bem entendido, pode ser limitação não do autor, mas do leitor.
No fim de contas, a leitura acaba por ser agradável, mas deixa uma certa sensação de que falta qualquer coisa. Uma certa sensação de desequilíbrio. Há detalhes de uma deliciosa capacidade imaginativa, mas estes inserem-se no tal cenário esquemático que deixa algo a desejar. Há momentos em que a viagem parece esgotar-se em si mesma. Há alturas em que a história parece arrastar-se, outros em que o enredo se resolve em duas apressadas penadas.
É só no final que acaba por se descobrir que o romance tem mesmo algum conteúdo. Que é um livro sobre o sonho, sobre o desejo, sobre a ambição. Um livro muito zen que nos quer pôr a pensar sobre o que pretendemos da vida e se vale mesmo a pena fazer tudo para alcançarmos os nossos objetivos. Não creio que o faça realmente bem, mas também não acho que o faça mal. Pareceu-me um livro mediano. Muito longe da excelência de outros livros de Simak, em particular Estação de Trânsito, mas uma leitura que não torna mal empregado o tempo nela gasto.
Estes livros foram comprados.
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