quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Da edição presente e futura: Prolegómenos e apresentação

Tem havido nos últimos tempos, não só na blogosfera literária portuguesa, mas espalhada por colóquios e revistas, pelo twitter e pelo facebook, ramificando-se, na verdade, bem para lá da restrita realidade nacional, englobando todo o planeta que lê, uma discussão de baixa intensidade, com ocasionais picos de polémica por vezes salpicados até daquela violência típica das polémicas que não se limitam a acontecer mas estalam, com estrondo, sobre o futuro do livro e da leitura e do papel e lugar que as editoras terão nele e têm hoje em dia.

Não tenho intervido. Mas tenho pensado no assunto, na medida do tempo disponível.

Não tenho intervido porque acho o problema demasiado complexo e multifacetado para ser desenovelado em duas penadas truz, pás, já está, como parecem julgar muitos dos que têm guardado menos reserva do que eu. Talvez não seja de surpreender, portanto, que muito do que por aí se tem vindo a dizer me soe a disparate, ou pelo menos a reflexão pouco amadurecida.

Mas como tenho pensado, e até acho que as conclusões ou impressões a que tenho chegado fazem algum sentido, a tentação de intervir tem-se feito sentir, e cada vez com mais acuidade.

Por fim, agora que tenho algum tempo livre nas mãos (que já não tenho, na verdade, mas boa parte disto já está escrita há algum tempo, portanto é como se tivesse), achei boa forma de empregá-lo passar a texto corrido o que me vai pela cabeça. Esta reflexão será publicada aos bocados, aqui no blogue, ao longo dos próximos dias. Não é definitiva, obviamente. Encontramo-nos num momento de mudança, e se há algo que estes momentos têm em comum é as coisas estarem em fluxo. É da natureza de momentos como este que o que parece hoje certo poderá não o ser amanhã. E isso faz com que tudo o que eu aqui escreva tenha em si uma certa dose de contingência. Podem ver nisto um aviso à navegação.

Mas quem diabo é este gajo, e que sabe ele sobre isto?, poderá pensar quem caia por acaso neste obscuro cantinho da internet.

É justo. É melhor que me apresente, não é? O que eu sei e penso sobre estes assuntos vem da seguinte experiência, e deixo ao critério de quem ler isto a avaliação sobre se é suficiente ou não para merecer a vossa atenção:

Trabalho vai para oito anos como tradutor profissional, tendo traduzido tanto livros de pequena visibilidade como alguns dos livros mais visíveis publicados em português nos últimos anos, seja em Portugal, seja no Brasil. Antes de ser tradutor, publiquei um pequeno livro de ficção, fruto de uma menção honrosa num concurso literário. Também antes, tive um romance recusado por uma grande editora, que na altura tinha uma coleção de ficção científica, com o argumento de que o livro tinha muito humor e pouca FC. Pura verdade: tem mesmo. Tive contrato assinado para a publicação de um livro de contos em Portugal, numa pequena editora. A publicação nunca aconteceu; depois de alguma trapalhada, comuniquei-lhes que já não estava interessado. A editora entretanto fechou portas. Tive tudo apalavrado para a publicação de um livro no Brasil, também numa pequena editora, embora sem contrato assinado; depois de vários adiamentos e também de bastante trapalhada que me deixou desconfiado daquilo em que me estava a meter, a edição foi anulada pela editora quando lhes exprimi essa desconfiança. Também esta editora já fechou portas. Não fiz mais nenhuma tentativa séria para publicar através de editoras, embora tenha sondado informalmente uma quarta editora, portuguesa, e não tão pequena como isso, sobre o interesse que teria em publicar uma coletânea de contos meus. Não tinha. Contos não vendem, parece, em especial se forem de ficção científica. Ironicamente, esta editora continua em atividade.

E sim, tudo isto fez parte da tal reflexão.

Que mais?

Ah, publiquei em print on demand um livro de crónicas, originalmente publicadas num jornal algarvio, que achei que pouco interesse teria fosse para quem fosse (não só o achei como o escrevi na introdução, aliás), mais para experimentar o processo do que por qualquer outra razão.

Publiquei ficção curta em vários sítios, de uma forma a que se convencionou chamar “profissional”, se bem que ninguém que o faça ganhe o suficiente para disso viver. Antologias, em especial no Brasil, e uma revista em Inglaterra, pagaram-me por textos meus.

Suponho que também seja relevante ter criado o Bibliowiki, não só pelo acompanhamento a ele inerente do que se vai editando no campo das literaturas fantásticas, por cá e noutros países de língua portuguesa, como por uma certa perspetiva histórica que ele também traz.

Por fim, tenho sido editor eletrónico intermitente desde que, em 2001, criei o E-nigma. Isso nada me disse sobre as editoras e como funcionam, mas deixou-me ensinamentos vários sobre algumas possibilidades de caminhos futuros para a leitura e a edição.

E pronto, é isto que este gajo é. O gajo está apresentado. Está feita a introdução. Seguem-se ideias.

Amanhã.

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