quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Encontramo-nos a 30?

Aconteceu quase por acaso. No dia em que passou um ano da morte do meu pai, comprei um livro. E senti-me tão bem com isso, senti que fazê-lo era tão certo, que um ano depois, tendo decidido transformar esse ato simples numa tradição pessoal, comprei outro. E dentro de cinco meses, comprarei o terceiro. Porque a data dói, mas dói um pouco menos assim. Porque assim transmuto em coisa boa uma coisa má. E porque assim não marco uma morte mas celebro uma vida.

Olhando para trás, para a sua vida e interesses, para o que fez, para as conversas que teve, para as suas ideias, o meu pai foi muitas coisas mas só uma se manteve constante e inabalável ao longo de quase todos os setenta e cinco anos que viveu. Desde que aprendeu a ler até poucos meses antes de morrer. Os livros. Um constante amor pelos livros, pela leitura, ocasionalmente pela escrita, que o levou a juntar uma biblioteca de uns quatro mil volumes. E por isso, comprar um livro na data da sua morte tem a certeza de um ponto de exclamação.

Mas porquê ficar por aí?

Se estivesse vivo, o meu pai faria no próximo dia 30 setenta e sete anos. E há dias, ao pensar nisso, nele, na sua vida e interesses, tive uma ideia. E se agarrasse em mim, nos meus livros e nos dele, e fosse passar um par de horas à Casa Inglesa (sítio que qualquer portimonense conhece e onde ele passava longas horas, em especial antes do 25 de Abril e aos fins-de-semana, à volta do xadrez, dos livros e, sim, da política), bebendo umas cervejas, lendo se não aparecer ninguém, conversando se aparecer?

Pareceu-me boa, a ideia. Uma espécie de festa de anos com aniversariante ausente por motivos de força maior. E ainda bem, que ele detestava essas pepineiras (palavras dele) e haveria de responder à ideia com uma ironia mordaz e demolidora qualquer. Mas depois, se conseguíssemos a difícil proeza de o arrancar de casa, até acabaria muito provavelmente por se divertir. Portanto, sim.

E assim será. Estão convidados. Dia 30, às nove, nove e meia da noite. Eu estarei lá, na Casa Inglesa, naquela sala que lá existe no primeiro andar. Levo livros. Os meus, os dele, talvez uma tradução ou outra. Venham daí. Se tiverem livros vossos, tragam-nos também. Se tiverem algum outro que achem que seria boa ideia trazer, venha ele.

Eu levo o meu pai. Ele anda sempre comigo.

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