sexta-feira, 11 de abril de 2014

Lido: A Filha de Rappaccini

A Filha de Rappaccini é uma noveleta de horror de Nathaniel Hawthorne que, um pouco à maneira de Frankenstein de Mary Shelley, pode igualmente considerar-se uma história antecessora da ficção científica. Datando como data ainda da primeira metade do século XIX, trata-se de um texto romântico com tudo aquilo que mais me desagrada nos textos românticos. Há neles uma fórmula que desde miúdo me parece muito ridícula: rapaz está calmamente a cuidar da sua vida, rapariga aparece-lhe na frente, rapaz põe nela os olhos e perde-se instantaneamente de amores, e depois ou tudo corre arrebatadoramente bem, ou tudo corre arrebatadoramente mal, entre facas e alguidares.

Sim, Hawthorne segue fielmente a fórmula, e quiçá por isso atribui este texto a um tal M. de l'Aubépine, que se limitaria a traduzir. O protagonista, um certo Giovanni Guasconti, aparece em Pádua para estudar. E pouco depois já está apaixonadíssimo por Beatrice Rappaccini, que vislumbra a deambular pelo jardim de sua casa. Ora, acontece que o pai da donzela é um cientista mais que um pouco louco e mau como as cobras (et voilà a ligação à FC), e tanto o jardim como a própria filha são o seu laboratório, com os quais conduz experiências que alteram a natureza das plantas e da rapariga. E por aí segue a história, com bastante previsibilidade: o jovem cada vez mais obcecado, a rapariga entre o esquiva e o interessada, e aos poucos vai-se descobrindo o que se passa com o jardim e os estapafúrdios porquês do pai da rapariga, após o que toca de atar tudo isto num desfecho à maneira, fim.

Sim, o meu tom é jocoso e este texto provavelmente não merece ser assim alvo de troça. Está bem escrito e a história está bem construída. Quanto à fórmula, é fruta da época; era assim que se escrevia um pouco por todo o Ocidente há cento e muitos anos. É verdade que não gosto, que acho e sempre achei ridículo, mas reconheço que Hawthorne não merece ser gozado. Além disso, há quem goste deste tipo de história e desta forma de as escrever; para esses, esta será mais que provavelmente uma boa história, por mais que para mim não o seja. Pax.

Contos anteriores deste livro:

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