Ao longo destes anos, fui dizendo várias vezes que me parecia que esta compilação era das mais equilibradas antologias de originais de género que se tinham editado em Portugal porque, apesar de me parecer que nenhuma destas histórias atinge uma qualidade tão elevada como as melhores histórias de algumas das outras antologias portuguesas, nesta também não há os contos realmente maus que costumam aparecer nas outras. Hoje, (re)lendo-a, mantenho essa opinião, embora seja necessário sublinhar que me falta ainda ler algumas das antologias mais recentes.
Não sei se escolheria alguma destas histórias para figurar numa eventual antologia da melhor FC&F lusófona publicada ao longo da primeira década do século XXI, mas são várias as que incluiria numa daquelas listas de outras histórias dignas de menção que os antologistas do mítico lá fora costumam incluir nas suas recapitulações do melhor que se foi fazendo num determinado período. Falta-lhe, claro, unidade temática, visto que não é uma antologia temática. Também há nela um considerável desequilíbrio entre a ficção científica e as outras vertentes das literaturas do imaginário, consequência do material que nos foi apresentado, desproporcionadamente composto por FC. A ideia era fazer um livro abrangente e multifacetado, desejavelmente o primeiro de uma série, mas os autores tiveram outras ideias e enviaram-nos muitíssimo mais ficção científica do que qualquer outra coisa. Isso desequilibrou o resultado, piorando-o relativamente ao que poderia ter sido.
A culpa, provavelmente, é nossa, dos organizadores, seja por não termos conseguido deixar claro que queríamos contos de todos os tipos, seja por não termos logrado levar a ideia do projeto a autores mais interessados noutros tipos de fantástico do que propriamente na FC. Seria algo a corrigir numa antologia que se lhe seguisse mas, por vários motivos, essa nunca chegou sequer a ser cogitada após a compilação e publicação desta.
É uma antologia com defeitos, naturalmente. Parte desses defeitos devem-se a ter acabado por ser uma publicação amadora com o que isso implica de ausência de revisão, paginação e acabamento profissional que muitas editoras (não todas, infelizmente; já tenho visto coisas bem piores saídas de editoras profissionais... e até recentemente) lhe poderiam ter dado. Também não era essa a ideia inicial, mas foi assim que acabou por ter de ser.
Mas mesmo sendo uma antologia com defeitos, mesmo não incluindo nenhum daqueles contos extraordinários que por vezes aparecem neste tipo de publicação, descobri com esta (re)leitura que, sim, gosto bastante do resultado. Sou, obviamente, suspeito — afinal fui eu que escolhi estes contos, com companhia, é certo, mas houve tão poucas divergências entre mim e o Luís na escolha dos textos que se tivesse sido só eu a escolhê-los seriam praticamente os mesmos. Mas creio que os sete anos que se passaram entre publicação e leitura, e os nove que transcorreram desde a seleção dos trabalhos (o processo de publicação demorou dois longos anos) são os suficientes para obter algum distanciamento, e julgo que, hoje, a minha opinião seria quase idêntica caso não tivesse estado envolvido no processo. A única coisa que sei que a influencia é a consciência que não deixei de ter das qualidades e limitações do material que recebemos, o qual, obviamente, condicionou o resultado final. Daí o quase. Mas sim, julgo que, se estivesse a avaliar o livro sem qualquer conhecimento prévio e sem qualquer participação minha nele, continuaria a pensar que esta é uma antologia equilibrada, com contos entre o razoável e o bom que por isso compõem um livro interessante e muito legível, das melhores compilações do género que se publicaram até ao momento em Portugal.
E de generalidades, é tudo o que tenho a dizer. Quanto a pormenores, eis o que achei dos vários contos do livro:
- Resíduos Sólidos Urbanos
- Oberon
- Fome de Pássaro
- Para Tudo se Acabar na Quarta-Feira
- Littleton
- Digital Éden
- O Pico de Hubert
- Disse a Profetisa
- Assassinos de Sobreiros
- A Irmandade
- O Nevoeiro que Desvendou Realidades
- Ponte Frágil Sobre o Nada
- O Deus das Gaivotas
- Xochiquetzal em Cuzco
Este livro veio-me parar às mãos por ser seu organizador e coautor. Claro.
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