quarta-feira, 23 de abril de 2014

Lido: Por Universos Nunca Dantes Navegados

Por Universos Nunca Dantes Navegados (bibliografia) é uma antologia de ficção científica (principalmente) e fantástico, organizada há já uma quantidade razoável de anos por mim e pelo Luís Filipe Silva, e que decidi agora reler para ver que tal se aguentou no confronto com o tempo. Reler, ou ler pela primeira vez pois, embora obviamente tenha lido todos estes contos quando estava a escolhê-los, nunca tinha lido o livro que resultou da sua junção.

Ao longo destes anos, fui dizendo várias vezes que me parecia que esta compilação era das mais equilibradas antologias de originais de género que se tinham editado em Portugal porque, apesar de me parecer que nenhuma destas histórias atinge uma qualidade tão elevada como as melhores histórias de algumas das outras antologias portuguesas, nesta também não há os contos realmente maus que costumam aparecer nas outras. Hoje, (re)lendo-a, mantenho essa opinião, embora seja necessário sublinhar que me falta ainda ler algumas das antologias mais recentes.

Não sei se escolheria alguma destas histórias para figurar numa eventual antologia da melhor FC&F lusófona publicada ao longo da primeira década do século XXI, mas são várias as que incluiria numa daquelas listas de outras histórias dignas de menção que os antologistas do mítico lá fora costumam incluir nas suas recapitulações do melhor que se foi fazendo num determinado período. Falta-lhe, claro, unidade temática, visto que não é uma antologia temática. Também há nela um considerável desequilíbrio entre a ficção científica e as outras vertentes das literaturas do imaginário, consequência do material que nos foi apresentado, desproporcionadamente composto por FC. A ideia era fazer um livro abrangente e multifacetado, desejavelmente o primeiro de uma série, mas os autores tiveram outras ideias e enviaram-nos muitíssimo mais ficção científica do que qualquer outra coisa. Isso desequilibrou o resultado, piorando-o relativamente ao que poderia ter sido.

A culpa, provavelmente, é nossa, dos organizadores, seja por não termos conseguido deixar claro que queríamos contos de todos os tipos, seja por não termos logrado levar a ideia do projeto a autores mais interessados noutros tipos de fantástico do que propriamente na FC. Seria algo a corrigir numa antologia que se lhe seguisse mas, por vários motivos, essa nunca chegou sequer a ser cogitada após a compilação e publicação desta.

É uma antologia com defeitos, naturalmente. Parte desses defeitos devem-se a ter acabado por ser uma publicação amadora com o que isso implica de ausência de revisão, paginação e acabamento profissional que muitas editoras (não todas, infelizmente; já tenho visto coisas bem piores saídas de editoras profissionais... e até recentemente) lhe poderiam ter dado. Também não era essa a ideia inicial, mas foi assim que acabou por ter de ser.

Mas mesmo sendo uma antologia com defeitos, mesmo não incluindo nenhum daqueles contos extraordinários que por vezes aparecem neste tipo de publicação, descobri com esta (re)leitura que, sim, gosto bastante do resultado. Sou, obviamente, suspeito — afinal fui eu que escolhi estes contos, com companhia, é certo, mas houve tão poucas divergências entre mim e o Luís na escolha dos textos que se tivesse sido só eu a escolhê-los seriam praticamente os mesmos. Mas creio que os sete anos que se passaram entre publicação e leitura, e os nove que transcorreram desde a seleção dos trabalhos (o processo de publicação demorou dois longos anos) são os suficientes para obter algum distanciamento, e julgo que, hoje, a minha opinião seria quase idêntica caso não tivesse estado envolvido no processo. A única coisa que sei que a influencia é a consciência que não deixei de ter das qualidades e limitações do material que recebemos, o qual, obviamente, condicionou o resultado final. Daí o quase. Mas sim, julgo que, se estivesse a avaliar o livro sem qualquer conhecimento prévio e sem qualquer participação minha nele, continuaria a pensar que esta é uma antologia equilibrada, com contos entre o razoável e o bom que por isso compõem um livro interessante e muito legível, das melhores compilações do género que se publicaram até ao momento em Portugal.

E de generalidades, é tudo o que tenho a dizer. Quanto a pormenores, eis o que achei dos vários contos do livro:
Os leitores curiosos descobrirão que faltam dois links aqui nesta lista. Não, não é engano. Não falei mesmo de dois contos. O motivo é simples: um é meu, o outro é meu e do meu pai. Li-os como aos outros (se a ideia era ficar com uma ideia de conjunto do livro, não faria sentido não os ler) mas seria ridículo estar a criticá-los como se fossem de outrem. Vou só acrescentar que o facto de este livro trazer um conto que escrevi com o velhote o torna muito relevante para mim. Se quiserem encarar isto como mais um motivo para suspeitar da minha opinião sobre ele, estão à vontade. Eu acho que não influiu (até porque ao ler o conto conjunto torci o nariz várias vezes com detalhes que estão mesmo a pedir por uma revisãozinha; se voltar a publicá-lo terá de haver mudanças), mas vocês têm toda a liberdade de achar que sim.

Este livro veio-me parar às mãos por ser seu organizador e coautor. Claro.

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