quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Lido: A Prisão de Areia

A Prisão de Areia (bibliografia) é uma noveleta de J. G. Ballard que merece por inteiro o epíteto de ballardiana. Ballard está no seu melhor quando ambienta as suas histórias em lugares desolados, decadentes, de onde a civilização se afastou e aos quais continuam teimosamente a agarrar-se pequenas (ou mesmo minúsculas) bolsas de humanidade. E é o que temos aqui, num Cabo Canaveral alterado pelo depósito na região de muitas toneladas de areias marcianas, que fizeram a costa penetrar Atlãntico dentro e transformaram a zona num deserto rubro, uma cópia autêntica do quarto planeta no terceiro. Pior: uma cópia contaminada, que gerou uma zona de exclusão da qual a vida é expulsa, com a exceção de um grupo de três pessoas, perseguidas pelo exército, procuradas, todas elas com uma ligação qualquer ao abandonado programa espacial americano, e que assistem, como quem cumpre um ritual, à passagem pelo céu de uma "constelação" de cápsulas orbitais, tripuladas por astronautas mortos há décadas. É um conto muito bom, mais pelo ambiente e pela forma como ele é descrito e explicado, pela poesia melancólica das imagens, pelas personagens, seu comportamento e motivações, do que propriamente pelo enredo. Este, no fim de contas, pouco importa, o que provavelmente desagradará aos fãs de histórias de ação. Cá eu, acho soberbo. Este é dos tais contos que perduram na memória.

Contos anteriores deste livro:

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